quarta-feira, 26 de março de 2008

09. The Doors - The Doors

A banda:


Jim Morrison - vocais/poética
Ray Manzarek - teclados
Robert Krieger - guitarras
John Densmore - bateria




Lançamento: Jan/1967


Playlist:

01. Break On Through (to the Other Side)
02. Soul Kitchen
03. The Crystal Ship
04. Twentieth Century Fox
05. Alabama Song
06. Light My Fire
07. Back Door Man
08. I Looked at You
09. End of the Night
10. Take it as it Comes
11. The End

Várias coisas chamam muita atenção nesse disco, o debute da banda californiana. O estranho nome, vindo da literatura - Morrison gostava do romance "The Doors of Perception" de Aldous Huxley e se inspirou aí para nomear a banda - o que também é bastante incomum, tendo em vista que a literatura nunca foi um tema lá muito comum entre roqueiros. A banda é da Califórnia, um lugar ensolarado e com muitas praias que anos mais tarde seria o porto de bandas de punk-pop-rock, como The Offspring e mesmo dos ensandescidos Red Hot Chili Peppers, ou seja, o obscuro The Doors é uma ovelha negra da cena de rock californiana. A capa do disco estampa enorme a face de Jim Morrison, um dos maiores frontmans da história do roquenrol, enquanto os outros membros da banda se espremem na sombra que resta, como se fossem parte da mente perturbada do vocalista. Outro fato quase que absurdo da banda é a falta de um baixista. Ao escutar o disco nos perguntamos quem é o baixista que existe em todas as faixas e então nos revoltamos por seus créditos não estarem devidamente expostos no encarte. O que acontece com o The Doors (essa redundância de artigos é irritante, eu sei) é que o talentosíssimo tecladista Ray Manzarek se utiliza do órgão para fazer o acompanhamento com a bateria, substituindo perfeitamente o baixo, como fica claro, por exemplo na faixa quatro, "Twentieth Century Fox".

Escolhi esse disco porque estava com saudade dos clássicos dos anos 1960-1970. E, assim como o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, o debute do The Doors é um quarentão. E mostra como é um clássico desde a primeira faixa, um dos maiores hits da história, "Break On Through (to the Other Side)". Essa música foi o primeiro single do disco, ou seja, a primeira música da banda que foi tocada nos rádios e ela não deixa dúvidas da potência da banda, de toda a sua raiva e qualidade. Apesar das limitações técnicas de Morrison como vocalista - sua voz grave não tem muitas possibilidades - a paixão com que as letras são cantadas é invejável. Eu disse letras, mas o mais indicado seria chamá-las de poemas, já que a cultura literária de Morrison é ainda mais invejável que sua paixão e suas composições não deixam dúvidas disso.

Agora está justificada a capa do álbum. Muito do que torna o The Doors uma banda clássica e das mais influentes dos mais de 50 anos da história do roquenrol é devido a Morrison. Suas performances são inigualáveis, não apenas em shows - onde recitava poemas entre as músicas - mas inclusive no estúdio. Ele também elevou o roquenrol a um nível cultural sem precedentes na grande mídia. Lembro de uma frase de Renato Russo em que ele respondia sobre o que ele achava de todos idolatrarem suas letras. Disse sem medo de ser feliz que a juventude brasileira é aculturada e que não lê praticamente nada. É mais ou menos o que ocorre com Jim Morrison. Ele se permite uma maior intelectualidade em prol da boa música. Obviamente a banda tem também excelentes músicos. Todos são referências respeitadas hoje em suas devidas posições. O disco mostra bem o alto nível dos teclados e guitarras em outro clássico dos clássicos, "Light My Fire", com solos tanto de órgão como de guitarra e um show de bateria.

O The Doors é uma banda única para o seu porte. Houveram e ainda existem bandas que têm mais ou menos o estilo deles, mas nenhuma jamais alcançou seu sucesso, muito devido à originalidade - o The Doors foi o primeiro a fazer as misturas que fez nos EUA - e também ao carisma de Morisson. Misturando folk, psicodelia, blues, jazz e literatura, conseguiram fugir da semelhança com bandas britânicas, como o Jethro Tull ou Led Zeppelin que têm exatamente as mesmas influências, pela atuação do vocal muito particular e pela introdução da cultura estadunidense na sua música. Com isso, músicas como "Alabama Song" e "Twentieth Century Fox" se tornam fatores consideráveis na diferenciação da banda para tantas outras próximas no estilo, colocando-os em um estilo diferente do das bandas que citei.

O disco contém dois grandes hits bem diferentes entre si - "Break On Through (to the Other Side)" mais roqueira e com um tema suicida e "Light My Fire" inclinada para a psicodelia e, ao contrário da primeira, versa sobre paixão, chegando ao nível do erotismo - mas não são os únicos destaques. O blues "Back Door Man" é excelente e mostra a versatilidade dos músicos quando comparada, por exemplo à faixa 2 "Soul Kitchen", que tem mais groove, é mais dançante. Na outra ponta temos a melancólica "The Crystal Ship", que tem uma deixa de amor perdido, tanto na melodia quanto na letra. "I Looked at You" mostra o legado dos Beatles, é uma composição muito semelhante às de McCartney no início da carreira. "End of the Night" é exatamente o que o título sugere e nada pode tirar isso dela, foi composta à perfeição para dar esse clima e ponto final (.)

O acontecimento que encerra o disco é, convenientemente, "The End". Durante homéricos 11:41min uma música lenta e muitíssimo melancólica se arrasta, começando com os versos "This is the end/Beautiful friend, the end/My only friend, the end" ("Esse é o final/Lindo amigo, o final/Meu único amigo, o final"). Um surto psicodélico se segue com os três músicos mostrando a que vieram e Morrison cantando sobre garimpeiros desconhecidos e ônibus azuis - amostras: "The west is the best" ("O oeste é o melhor") e "The blue bus is calling us" ("O ônibus azul está nos chamando"). Se alguém conseguir entender isso me conta, porque eu não tenho inteligência suficiente. Em seguida uma história surge. O matador se levanta e, atravessando a casa chega na porta do quarto dos pais. Morrison canta então com uma calma perturbadora o diálogo: "Father/Yes son/I want to kill you" ("Pai/Sim filho/Eu quero te matar") e depois num acesso psicótico do vocal o filho diz à mão que quer foder com ela. Sim, para delírio dos psicanalistas de plantão, a tragédia grega "Édipo Rei" está ali jogado na nossa cara. Eu tinha avisado antes sobre a mente perturbada de Morrison. O último verso consuma o que viria a ser o melhor disco da banda e um clássico para o mundo, recomendado a qualquer um que tiver coragem de se arriscar no mundo surrealista do The Doors: "This is the end".

sábado, 1 de março de 2008

08. Red Hot Chili Peppers - Stadium Arcadium













A banda:

Anthony Kiedis: vocais
Flea (Michael Balzary): baixo/backing vocals
John Frusciante: guitarra/backing vocals
Chad Smith: bateria/backing vocals


Lançamento: 09/05/2006


Playlist:

CD 1 - Jupiter
01. Dani California
02. Snow ((Hey Oh))
03. Charlie
04. Stadium arcadium
05. Hump de Bump
06. She's Only 18
07. Slow Cheetah
08. Torture Me
09. Strip My Mind
10. Especially in Michigan
11. Warlocks
12. C'mon Girl
13. Wet Sand
14. Hey

CD 2 - Mars
01. Desecration Smile
02. Tell Me Baby
03. Hard to Concentrate
04. 21st Century
05. She Looks to Me
06. Readymade
07. If
08. Make You Feel Better
09. Animal Bar
10. So much I
11. Storm in a Teacup
12. We Believe
13. Turn it Again
14. Death of a Martian


Não existe ninguém no mundo ocidental que, em 1999, tivesse mais de 10 anos e não conheça os Red Hot Chili Peppers. Ok, isso é um exagero e tanto, mas é fato que o mundo dessa banda não foi o mesmo depois do lançamento de Californication. Quem não se lembra da baladíssima “Scar Tissue” ou da loucura de “Otherside” e de seus clipes, assim como o clipe-videogame de “Californication”? O tocador de violão que nunca tentou tirar alguma dessas músicas que atire a primeira pedra. Por mais que os Chili Peppers – apelido estadunidense para o que nós, meros latinos chamamos de Red Hot – fossem, já em 1991 com o obsceno Blood Sugar Sex Magik, uma banda de muito sucesso, isso não chega aos pés do que foi Californication. A banda se virou mais para o mundo pop, pegando mais leve nas insanidades funkadélicas dos álbuns iniciais e estava renascendo, depois do depressivo álbum de 1995, One Hot Minute, com a volta do guitarrista nascido e criado pela banda, John Frusciante. Outra razão fundamental para a mudança no estilo da banda foi o divorcio dos integrantes com as drogas, causa para o afastamento de Frusciante e perda de amigos pelos integrantes – a mais clássica música da banda, “Under the Bridge” foi composta em homenagem a um desses amigos.

Com todo o estardalhaço em volta do disco de 1999, a expectativa sobre o próximo álbum era monstruosa. Dá pra imaginar a surpresa quando, em 2002, By the Way, o disco mais comportado e melódico da banda foi lançado. Alguns fãs rechaçaram o novo trabalho da banda, chegando a dizer que é o pior já lançado, o que é um absurdo. The Red Hot Chili Peppers, primeiro disco deles, é tão bom que parece que foi gravado debaixo de um viaduto congestionado. O disco de 2002, 8º de estúdio da banda, é simplesmente um reflexo da evolução tanto da banda quanto do mercado e indústria fonográficos, poderosíssimos nos primórdios dos anos 2000. Então os Chili Peppers voltaram para o estúdio e, após uma longa espera de quatro anos, surgiram as notícias de que em torno de 40 músicas haviam sido compostas pelo quarteto. Bastante coisa, não? E enquanto isso, na louca mente de Frusciante o projeto de lançar um disco solo por bimestre seguia. Em 2004 foram cinco álbuns lançados.

Pois bem, como resultado de toda essa balbúrdia, recebemos Stadium Arcadium. A idéia original era de lançar três discos separados em 18 meses, mas acabou sendo resolvido que apenas um disco duplo – primeiro da carreira da banda – seria lançado com 28 faixas e mais 10 músicas seriam lançadas como lados-b. O primeiro piscar de olhos do álbum foi “Dani California" e seu maravilhoso clipe. Ouvi-la foi um alivio para muitos fãs. Ela tem uma pegada bem roqueira, nem tão melódica nem tão caótica, não perde a essência da banda nem fere os ditames do mainstream. Parecia que tudo seguiria bem. Algumas coisas se podiam inferir dessa musica também: Flea continuava bem como sempre foi; Kiedis nunca cantou tão bem, coisa que vinha ocorrendo desde Californication; a bateria de Chad também se mantinha muito bem. Mas havia algo de diferente, algo que ia além do que eles já haviam feito; as coisas estavam melhores do que imaginávamos . É aqui que entram os anos de carreira solo de Frusciante. O seu amadurecimento musical é impressionante. Novamente - desde Californication ele vinha acompanhando os vocais de Kiedis - está sempre lá, sua vozinha aguda e insistente. Agora, mais do que nunca, ele vem presente nos backing vocals e mais, suas melodias nunca foram tão boas. Claro, ele compôs “Under the Bridge” não há como negar que é uma das melhores músicas da banda, mas agora ele vem com um caminhão de músicas desse peso, “Snow ((Hey Oh))” vem logo depois de “Dani California" nos mostrar isso.

A banda evoluiu, mudou, ficou mais fácil de se ouvir, mas não esqueceu em momento algum as suas raízes, na mistura de punk com funk com obscenidade, com rock, com drogas, com hip-hop, com sei-lá-mais-o-quê. A terceira faixa do CD 1 nos mostra parte disso. Apesar de “Charlie” ser uma música melodiosa, é inegavelmente influenciada pelo funk, desde sua introdução no baixo até a faixa quebrada de guitarra, mas com pitadas do mercado pop. Obviamente ela não é a única assim das 28 que compõem o álbum. “Hump de Bump” é uma visão ainda mais próxima do que foi a banda em nos idos dos anos 1980 – quando eles eram indie, nome fofinho de hoje para o que na época era chamado de alternativo, porque era muito estranho para ser absorvido pelo mercado fonográfico – mas com a maturidade que eles alcançaram agora: a obscenidade foi abrandada, os vocais são compreensíveis, Flea deixa a marca de seu trompete e a guitarra se apresenta mais marcante, além de uma inusitada parada para a percussão, nessa música especificamente. Na verdade, o disco que leva o nome do grande deus dos deuses romanos é, de forma geral mais negro, no sentido étnico da palavra mesmo. Ele é mais próximo do funk e do hip-hop; “Torture Me” e “So Much I” são assim, mas sem nos deixar esquecer de que a banda agora é mais melódica, mais preocupada com o ouvido alheio. “Torture Me”, na verdade é parecida com o que eram os Chili Peppers em Blood Sugar Sex Magik, assim como “Warlocks”

Músicas como “Slow Cheetah” e “She Looks to Me” também mostram essa preocupação. Elas são, de fato faixas melódicas, mais calmas e fáceis de se ouvir e gostar. “Especially in Michigan” é outra música melódica, mas sem fugir do rock, lembrando muito o que era feito em Californication. Abrindo Mars, o CD 2, temos “Dessecration Smile”, que segue mais o que foi feito no By the Way, assim como “Tell Me Baby”, que se assemelha a “Can’t Stop. A faixa que dá titulo ao álbum mostra também a face melódica da banda, mas além disso vemos um pouco do que foram os Chili Peppers na difícil fase sem Frusciante: é uma musica mais melancólica, mais lenta, quase nostálgica, assim como “Strip My Mind”, que poderia compor o disco One Hot Minute sem problemas.

Podemos achar outros exemplos no disco com o nome do planeta vermelho, que é, em oposição ao caos mais presente em Jupiter, mais melódico e pop, o que eu não quer dizer que seja menos animado que o primeiro. Na verdade os discos têm uma estrutura relativamente parecida, em termos da seqüência das músicas, começando num nível mais alto de energia que, gradualmente, vai se dissipando, em faixas mais calmas. A diferença é que, em Jupiter a energia inicial é mais alta e cai mais bruscamente, enquanto Mars é mais constante. As músicas melancólicas são poucas no álbum. “Make You Feel Better” está lá justamente para mostrar como os Cili Peppers são mais animados que melancólicos; os próprios componentes cantam no refrão em coro: “We are the ones that will make you feel better” (“Nós somos os que vão te fazer se sentir melhor”).

Tudo isso ilustra a grande máxima desse álbum: ele é uma coletânea de músicas inéditas. Nada mais obvio, qualquer álbum de inéditas de qualquer banda é exatamente uma coletânea de inéditas, não é a toa que são chamados de álbuns. Stadium Arcadium, entretanto é uma revisão da banda de sua própria história. É um álbum animado, como grande parte dos antigos trabalhos dos Chili Peppers, mas tem sua pontinha de melancolia, da mesma forma. Tem musicas melódicas e musicas caóticas, tem funk, tem rock, tem punk, tem amor, tem obscenidade, tem loucura, tem gritos despropositados, enfim, ele é na verdade um grande presente da banda para os fãs. Em tempos de mp3, quando músicas, mas não necessariamente discos completos são baixados na Internet, a banda faz um disco sem um tema especifico, que comporta quase tudo o que eles já fizeram e que, por não ter uma cara pré-definida, aceita a cara que o ouvinte quiser dar. Não há sequer uma música ruim nos dois discos e, apesar de serem bem compridos – somados têm pouco mais de duas horas e meia – não são repetitivos ou cansativos. Eu sou realmente tendencioso ao dizer isso, mas não acho que a maior parte das pessoas do mundo que tinham mais de 10 anos em 1999 discordaria de mim. Tudo o que me resta é agradecer a uma das minhas bandas favoritas.


Por fim, temos algumas musicas que vou chamar de proféticas. São musicas que não lembram, tanto quanto as outras, coisas que já foram feitas, mas não fogem do que é a banda. A minha aposta é que musicas como “Turn it Again”, “Hard to Concentrate” e “C’mon Girl” mostram para onde está indo o Red Hot Chili Peppers e o que podemos esperar para um próximo disco. Outro exemplo dessa tendência é a impressionante última faixa do disco 2, Mars, “Death of a Martian”. Com o baixo e a guitarra andando juntos, um acompanhando o outro mutuamente, e de fato um clima de fim de festa, a música se encaminha, após seguir sem surpresas durante 3 minutos, para um final profético, com Smith arrastando os pratos da bateria, enquanto a guitarra sola bem ao estilo de Frusciante e Flea tenta manter algum sentido, assim como o dedilhado de guitarra que repete e repete; tudo isso com Kiedis em tom de anunciante do armagedom vomitando imagens oníricas e brincando com as palavras, rimas, assonâncias, etc. e termina o álbum num grito que deixa tudo silencioso novamente.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

07. Ok Go - Oh No


A banda:


Damian Kulash - vocais/guitarra
Andrew Duncan - guitarra (abandonou a banda após o fim das gravações do disco)
Tim Nordwind - baixo
Dan Konopka: bateria
Andy Ross - guitarra (entrou no lugar de Andrew Duncan)



Lançamento: 30/08/2005



Playlist:

01. Invincible
02. Do What You Want
03. Here It Goes Again
04. A Good Idea At The Time
05. Oh Latelly It's So Quiet
06. It's A Disaster
07. A Million Ways
08. No Sign Of Life
09. Let It Rain
10. Crash The Party
11. Television, Television
12. Maybe, This Time
13. The House Wins





O roquenrol foi renovado mais uma vez com a virada da década de 2000. Ficou mais cru, direto, e menos liso, menos uniforme. Agora a cozinha trabalha com faixas mais quebradas, mais espaços em silêncio nas músicas. Isso começou um pouco antes da virada – como qualquer transformação – com as bandas independentes que já faziam o que viraria moda. Dessas bandas de roque moderno, a primeira a explodir, em uma hecatombe equivalente a mais ou menos 214 bombas de hidrogênio, foram os novaiorquinos do The Strokes. Toda a mídia especializada fervia em cima deles no ano de 2001, quando o excelente disco “Is This It?” foi lançado. A sujeira, ebriedade, simplicidade, aliados a boas influências e ainda melhor produção fez deles mais uma das dezenas bandas que “salvaram o roquenrol”. Com isso as pequenas bandas que faziam um som parecido começaram a ganhar espaço e atenção da grande mídia. A penúltima (2003) novidade segundo os olhos dessa mídia foi o Artic Monkeys, que eu, particularmente não acho nada de demais, apenas uma tentativa de jogar os Strokes e Nirvana no liquidificador e ver o que sai. A última (2005) grande banda ajudada pela crítica e grande mídia foram os escoceses do The Fratellis, banda de fato muito boa e que vale a pena ser ouvida, mas não é de nenhum deles que vou falar.

Um dos patinhos feios dessa historia toda é a Ok Go. Juntaram-se em 1998 em Chicago e conseguiram lançar seu primeiro – e bem mediano – álbum em 2002, homônimo da banda. Talvez seja por isso que nada grande foi alardeado em torno deles, apesar de terem seus fãs nas redondezas. Em 2005 o disco da foto ali em cima foi lançado. Nessa época, porem outra coisa surgia, que mudaria os rumos da banda e também de toda a mídia de entretenimento: o YouTube. Com uma câmera em cima de algum móvel qualquer e seis esteiras de ginástica, os integrantes da banda fizeram um dos clipes mais geniais da historia: “Here It Goes Again”. E então, com um empurrãozinho da grande rede, eles ficaram conhecidos em quase todos os cantos do planeta.

Oh No, entretanto não vive apenas de idéias absurdas para clipes. Com pegada roqueira, mas admitindo uma nuance pop e uma quase ingenuidade cativante, o disco é um dos ótimos discos que o roque moderno nos trouxe. Obviamente a excentricidade das idéias dos integrantes ajuda na popularização da banda, assim como sua presença de palco bastante enérgica, mas isso não tira os créditos de músicas excelentes, como a já citada “Here It Goes Again” e a primeira do disco, “Invincible”, que é um bom tapa na cara do ouvinte para acordá-lo para o que vem adiante.

Com canções quase pops, como “A Good Idea At The Time”, o disco soa muito agradável desde a primeira execução. O peso está sempre presente, a não ser, é claro, nas baladas “Oh Lately It’s So Quiet”, “Let It Rain” e “Maybe, This Time”. As baladas, inclusive, sempre apresentam algum elemento mais original, que não é um clichê no estilo. O fato de o vocalista ter uma boa voz também é notável, mesmo que não seja um tom que se destaque, como o que acontece com Alex Kapranos do Franz Ferdinand, se encaixa com perfeição nas composições; palmas para o produtor – vou ficar devendo o nome. Os backing vocals também estão sempre lá para apoiar e cumprem muito bem seu trabalho.

Os destaques do disco em si são a energia tirada de tão pouca teoria musical, uma aula para bandas de virtuosi como o todo-poderoso Dream Theater – eu sei que são estilos muito diferentes, mas nem mesmo no metal é necessário ser tão metódico e robótico, tanto que eles são um “metal melódico/progressivo/power/épico/etc. Como já disse, a faixa número um é uma porrada e com certeza um destaque no disco por sua energia. “No Sign Of Life” é, na minha opinião a melhor faixa do disco, com uma guitarra simples, mas colante, assim como a sua curtíssima letra – duas estrofes, pré-refrao e refrão três vezes. O poder do riff de guitarra é tremendo, com suas notas agudas e insistentes; o solo é apenas uma extensão do riff, e só aparece para finalizar a excelente música . Outro destaque vai para os 2:25 minutos de “Crash The Party”, com sua letra que incentiva a simplicidade, renegando os cortejos e as ridículas conversas que precedem o romance ideal que no obrigamos a procurar. Tudo isso num clima de festa que melhora o humor de qualquer um, parece até um musical adolescente.

Apesar de ter citado apenas essas faixas, todo o disco é bom, não tem musicas médias ou ruins e tem outras mais roquenrol boas – “Television, Television” – e baladas também – “Oh Lately It’s So Quiet”. Não ando muito antenado, mas o Ok Go provavelmente é figurinha carimbada nas festas indies, mas fazem bem ao cardápio de qualquer um que goste de roquenrol puro, sincero, direto e empolgante; quase todo mundo. Não deixe também de assistir aos outros clipes insanos deles, “A Million Ways” e "Do What You Want".

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

06. Ben Harper - Diamonds On The Inside

Artista solo; tem tanta gente que toca com ele no disco que deu preguiça de colocar a banda aqui.








Lançamento: 11/03/2003

Playlist:
01. With My Own Two Hands
02. When It's Good
03. Diamonds On The Inside
04. Touch Form Your Lust
05. When She Believes
06. Brown Eyed Blues
07. Bring The Funk
08. Everything
09. Amen Omen
10. Temporary Remedy
11. So High So Low
12. Blessed To Be A Witness
13. Picture Of Jesus
14. She's Only Happy In The Sun

Muita gente conhece o Ben Harper atualmente. Ele fez a parceria com a Vanessa da Mata e a música deles toca o dia inteiro no rádio. Eu também acho aquela música legal, mas não tudo o que se diz por aí; as músicas solo de ambos são melhores. Por isso eu resolvi fazer uma análise desse disco de um dos músicos mais absurdamente completos que eu conheço. O cara toca tudo, muito bem e até faz umas músicas solo de vocais - capelas - muito boas.

Esse disco teve duas músicas que até fizeram um sucesso relativo, a primeira - "With My Own Two Hands" - e a faixa-título. Sozinhas elas mostram um pouco da variedade musical desse cara; a primeira é um reggae misturado com funk e a segunda uma baladinha com um ar surfista, de fato parecido com o Jack Johnson, mas bem mais rica, com uma progressão musical muito própria e um solo de guitarra, além de ter a voz bem mais agradável de Harper. O álbum passa por quase todos os gêneros da música negra, desde as suas raízes africanas, passando pelo blues, o soul, o reggae, o funk - estilo musical que surgiu na década de 1930, estourando entre os anos 1950 e 1970 e é uma espécie de "jazz das ruas", estilo de bandas como Jamiroquai e que o Red Hot Chili Peppers inclui na sua feijoada musical - e até mesmo o rock psicodélico, tudo tocado de forma apaixonada pelo artista.

Os solos desse álbum são um tópico à parte. Não por serem impressionantes, Ben Harper não é um virtuoso que fica querendo mostrar toda a sua destreza e velocidade, mas por serem tão carregados de emoção que se encaixam em músicas que normalmente não teriam um - "Diamonds On The Inside" é um exemplo disso, se fosse tocada pelo Jack Johnson ou seus afilhados não teria um solo. A intimidade de Harper com a guitarra é tamanha que suas músicas aceitam o instrumento por mais inesperado que seja a sua participação.

A quinta faixa, "When She Believes", é uma exceção dentro do disco. Com um clima vienense, ela tem quase uma orquestra de câmara tocando essa composição belíssima, que conta inclusive com um acordeon, que contribui para a dita atmosfera. A melodia da voz de Harper também é estupenda aqui, mas ainda não é seu grande momento. Em seqüência a polaridade é revertida, e da calma e quase melancólica faixa 5, entramos no funk "Brown Eyed Blues", apesar de o nome aparentemente negar - "blues" aqui vem no sentido do estado de espírito e não do estilo musical. A guitarra com a típica levadinha do estilo e a energia que o acompanha invariavelmente levantam o atral do disco. Um solo de baixo e guitarra são o grande destaque dessa música, assim como seu fechamento, com a importante participação da percurssão. "Bring The Funk" é o outro funk do disco, no sentido mais puro, pois a sua influência ocorre no disco todo. O baixo aqui vem com um riff sensacional, muito impositivo e, no geral, essa música supera a anterior, contando com teclado e uma parada sensacional, além de ter um ritmo melhor.

A atmosfera volta a esfriar com a faixa seguinte, mas continua mais animada, pois ela é mais pop, num estilo que contém soul, mas principalmente as ondas da Califórnia, onde Harper nasceu. "Everything" também tem uma boa letra, característica do artista, às vezes alegre, às vezes melancólico, como na faixa seguinte, "Amen Omen", que conta com uma excelente percurssão, além da tríplice de trunfos Harper: ótimas levadas no violão, letra bem escrita e voz excelente, tanto o timbre quanto a melodia; tudo isso misturado com muita emoção, pois, para quem quiser ver alguma apresentação ao vivo dele , suas músicas são parte de si. Atenção para o final dessa música e o sensacional conjunto de vozes, incluindo a de Harper.

Saímos do soul e sua melancolia para novamente tomar um choque com as faixas 10 e 11, com clara influência de Jimi Hendrix, mostrando todo o poder das guitarras do cara que antes parecia um bom-moço. Muita distorção e solos ensandecidos nas duas músicas de rock dos anos 1970 do disco. À propósito a década de 1970 é de grande influência para Harper, tanto pelo rock, quanto pelo funk, assim como os anos 1960 com o soul e o blues. "So High So Low" tem uma peculiaridade, começando com um dedilhado em violão e, de repente, surge o grito do meliante que, no primeiro verso, mata uma cobra com uma Bíblia e continua a música jogando sua mulher no chão e mais embaixo.

"Blessed To Be A Witness" e "Picture Of Jesus" vão de encontro com o profano roquenrol das faixas anteriores com letras gospel. Isso mesmo, ele canta sobre Jesus. Apesar do paradoxo, a ligação de "So High So Low" e "Blessed To Be A Witness" é tranqüila e acontece sem sustos. O clima agora é de "O Rei Leão", com uma percurssão muito competente e abusando das vozes, remontando ás origens do blues e ainda antes, em estilos de música típicos da África. É em "Picture Of Jesus" que Harper mais impressiona em seu 7º disco, 5º de estúdio. A faixa não tem instrumentos, é uma capela, com as vozes fazendo as vezes deles. É muito interessante ficar tentando prestar atenção a cada uma das vozes e suas funções na música. A última faixa termina o disco com um sentimento de que a gente vai querer escutar de novo amanha, não sei explicar muito bem o porquê, mas é o que acontece. Pra quem só ouviu "Boa Sorte", gosta de Jack Johnson ou simplesmente quer ouvir um músico completíssimo, que toca tudo que põe na mão e tem uma versatilidade enorme além de paixão por suas músicas essa é uma ótima pedida.

sábado, 29 de dezembro de 2007

05. Led Zeppelin - Led Zeppelin (I)

A banda:

Robert Plant - vocais/gaita
Jimmy Page - guitarras
John Paul Jones - baixo/órgão
John Bonhan - bateria






Lançamento: 12/01/1969


Playlist:

01. Good Times Bad Times
02. Babe I'm Gonna Leave You
03. You Shook Me
04. Dazed and Confused
05. Your Time Is Gonna Come
06. Black Mountain Side
07. Communication Breakdown
08. I Can't Quit You Baby
09. How Many More Times

Uma curiosidadezinha pra quem é fã ou não: clique aqui

Esse é o primeiro disco de uma das maiores bandas da história. O Led Zeppelin foi reunido com o término dos Yardbirds, que teve na formação figuras como Eric Clapton e Jeff Beck, além do franzino Jimmy Page. Para manter o compromisso dos shows marcados após a debandada dos outros membros da banda, Page teve que montar outro grupo que estivesse à altura de, pelo menos, realizar os shows. The New Yardbirds foi formada pelo mesmo quarteto que se transformaria no Led Zeppelin, nome que veio da expressão que Kieth Moon - o surtado baterista do The Who - dava aos shows ruins, que caíam como um zepelim de chumbo ("lead zeppelin"); Page queria à muito tempo ter uma banda com esse nome e aproveitou a oportunidade, mas alterou a grafia - lead para led - para não haver confusão com "zepelim líder".

A estréia da banda foi muito boa, atingindo a 10ª posição nas paradas dos EUA e 4ª na sua terra-mãe, a Inglaterra. Apesar de não ser o melhor disco deles ele é excelente, com um rock um pouco mais pesado que é o embrião do que futuramente seria o metal, mas também muito influenciado pelo blues. Ou seja, o disco tem riffs o tempo todo, músicas mais pesadas do que o que acontecia na época e outras com o andamento preguiçoso do blues. O vocal de Robert Plant é impressionante, ainda que a música que mostra todo o seu potencial ainda estaria por vir no terceiro disco, e os riffs de Page chamam a atenção, como já faziam antes da formação do grupo e o fazem até hoje. John Paul Jones está sempre presente não apenas como o baixista, mas como músico sensacional que é, tocando o órgão em solos inclusive e como arranjador, criando músicas - nesse álbum são quatro das nove, dessas nove outras três são versões. John Bonhan, que já era um baterista famoso antes de entrar para a banda também oferece contribuição valiosa, é máquina atrás de todos impulsionando as músicas com seu ritmo e viradas impressionantes.

A abertura do disco é impositória. Page mostra a que veio, com um riff forte, assim como o acorde que introduz a música. A parada com o baixo deixa clara a criatividade, independência e entrosamento dos quatro músicos e o devastador solo de guitarra não deixa dúvidas do sucesso que a banda irá experimentar. A bateria é interessante, meio quebrada, mas os vocais são mais simples. Começa então "Baby I'm Gonna Leave You", creditada no encarte como "tradicional", com seu lindo dedilhado no violão e a voz envolvente de Plant. É uma música que se transforma no seu decorrer, com o baixo e a bateria entrando somente no refrão e o dueto violão/voz com uns toques de guitarra mantém os versos, que mostram como a banda incorpora elementos da tradição céltica em seu estilo. Os vocais aqui são mais ousados, com agudos bem pontuados. Após o segundo refrão a música se torna bem mais pesada numa transição muito bem feita para voltar para um solo de violão mais ambiente novamente e um "solo" dos absurdos -no ótimo sentido - vocais de Plant para cair novamente no clima mais roqueiro, quase metaleiro e terminar com o fim das energias.

"You Shook Me" é um blues de Willie Dixon com a típica levada do estilo, e aqui Page e Plant começam uma forma de tocar que continuará para o resto da história da banda: a guitarra acompanhando exatamente a melodia dos vocais, ou vice-versa, não se sabe. Outro ponto forte desse música são os solos, incluindo um de órgão, por John Paul Jones, um de gaita mesclado com vocais por Robert Plant e o último sai das mãos de Jimmy Page e sua guitarra. A bateria não fica atrás e, mesmo não tendo um momento de solo, acompanha os seis minutos e meio da música à altura, com várias viradas. Ao final temos uma "disputa" entre Plant e Page pelo agudo mais potente e que assusta. Com uma passagem bem sutil, a quarta faixa entra cheia de efeitos na guitarra e um blues mais pesado que o anterior novamente mostrando a potência da banda como um todo. Mais um ponto tem que ser atentado nessa música, que é a sua psicodelia, outra marca registrada do estilo que a banda desenvolve, misturando-a com a tradição estadunidense do blues e céltica e ainda o hard rock.

O segundo lado do LP começa com "Your Time Is Gonna Come", uma música mais bonitinha, mais fácil de digerir, que começa com o órgão de Jones e tem seu riff em cima dele. Balada muito boa, que cria um ambiente mais acolhedor dentro do disco. Ainda assim ela não deixa de ter o seu momento rock mais pro final, nas diversões de Page e sua guitarra em solos com slide - quando o guitarrista usa aquele cilindro de acrílico no dedo. Uma das minhas baladas favoritas. Ainda nesse clima bucólico - essa palavra devia ser proibida em uma análise de um disco de rock, mas fazer o quê - "Black Mountain Side" é uma faixa instrumental de Page brincando com violões de 12 e seis cordas acompanhado por uma tabla - instrumento de percurssão indiano - e terminando de repente, parece até que acabou a energia no estúdio.

A etapa final do álbum começa com uma música que é quase um soco na cara. "Communication Breakdown" é uma música típica do hard rock e tem um riff que torna clara a influência dessa banda no heavy metal. O solo, com notas mais rápidas e agudas age da mesma forma, assim como a forma como Plant leva os vocais. De volta ao blues, mas dessa vez um pouco mais pesado, "I Can't Quit You Baby" é outra versão de Dixon, com um riff muito bom no refrão e mais diversão para Page e sua guitarra. A cozinha aqui está mais recatada, se preocupando mais em manter a música para que Page possa tocar sua guitarra. Plant afinado como sempre.

A épica última faixa do álbum, com seus 8' e 28'' de duração, tem um dos riff mais poderosos que já apareceram no Led Zeppelin. Tocado inicialmente pelo baixo e com estripulias da guitarra por cima e ataques dos pratos da bateria e do vocal esse riff entra na faixa mais pesada do disco. Ela também é bastante fechada, bem amarrada, parece ter sido composta como um todo e não ter quase nenhum improviso, coisa rara para essa banda. Aqui Bonhan tem seu grande momento no disco, compartilhando um solo com Page, que leva à uma excelente ponte onde Plant dá seu show, gradualmente entrando o acompanhamento de Jones, até que a música original se transforma totalmente. Cinco minutos depois o riff inicial é tocado novamente para o sensacional fechamento desse excelente debut. Recomendado para qualquer admirador do bom e velho roquenrol.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

04. Franz Ferdinand - You Could Have It So Much Better

A banda:

Alex Kapranos - vocais/guitarra
Nick McCarthy - vocais/guitarra/piano
Bob Hardy - baixo
Paul Thomson - bateria


Lançamento: 04/10/2005

Playlist:

01. The Fallen
02. Do You Want To
03. This Boy
04. Walk Away
05. Evil and a Heathen
06. You're the Reason I'm Leaving
07. Eleanor Put Your Boots On
08. Well That Was Easy
09. What You Meant
10. I'm Your Villain
11. You Could Have It So Much Better
12. Fade Together
13. Outsiders


Nem sempre gostei dessa banda. Quando eu comprei o primeiro disco dele eu me arrependi até que eles se tornaram uma das bandas novas que eu mais ouço. Como eles apareceram logo depois dos Strokes eu pensava que eram simplesmente uma resposta da indústria fonográfica britânica/européia aos "salvadores do rock" dos EUA - à propósito eles foram chamados pela nossa cara Rede Globo de Televisão de "a nova coqueluche do rock mundial". Ainda assim eu achava eles mais legais que os bêbados estadunidenses; apesar de gostar de Strokes também eu prefiro a sonoridade britânica do Fraz Ferdinand. Essa foi a minha idéia da banda até eu descobrir, com esse segundo disco, que eles eram muito maioes que isso. Agora eles se mostraram bastante independentes das marés do mainstream, com composições bem mais originais. Muito diferente do primeiro disco, é até difícil comparar os dois e dizer qual é o melhor, a banda também se diferenciou no mundo indie com essas novas composições.

Eles se juntaram - em Glasgow, Escócia - com a intenção de tocar músicas dançantes, sem deixar de lado o rock, algo que não é explorado por quase nenhuma banda brasileira, apesar de existir bastante fora. Quando eles apareceram foram comparados com o Interpol, banda formada três anos antes em Nova York; eles realmente guardam semelhanças, mas os escoceses sempre soaram melhores para mim. O ritmo bem marcado, tanto pela bateria quanto pelo baixo, caracteriza o estilo deles, assim como o tom de voz bem mais grave que o que estamos acostumados a ouvir nesses últimos anos, fazendo a música lembrar bastante alguns grandes do fim dos anos 1970 e da década de 1980, como Talking Heads, Joy Division ou mesmo Gang of Four. O vocalista e galã nas horas vagas Alex Kapranos é na verdade um dos pontos fortes da banda, tanto pelo seu tom de voz como pela levada das melodias que canta. Apesar disso nesse disco eles mostram uma faixa que me espantou bastante, mostrando outras influências bem anteriores da banda.

A faixa de abertura é uma surpresa para quem estava acostumado com o vocal mais simples, em termos de versos curtos bem visível no primeiro disco. Kapranos canta muito mais rápido que o de costume, o que é propiciado pela letra mais longa. A introdução dela também é muito interessante, passando por quase todos os riffs de guitarra usados no decorrer da faixa. Uma parada das guitarras mantendo a cozinha tocando mantém a energia da música para um final bem estruturado com um "solo" de guitarra bem disfarçado, já que não é - ou era, no disco anterior - de costume deles usar esse recurso em suas composições. A segunda música foi o primeiro hit do álbum, e é mais semelhante às do disco anterior. Apesar de ser relativamente simples, não deixa de ser empolgante e mostrar todo o poder das guitarras da banda. "This Boy" é mais diferente do que eles costumavam fazer, sendo mais explorada a guitarra em tons agudos, contrastando com o tom de voz dos vocais. Ela também levanta uma questão polêmica da banda, a homossexualidade. Assim como em "Michael", do primeiro disco deles, essa é uma música que trata de um garoto, que é dito "bom pretendente" na letra.

A terceira música foi a segunda de trabalho que apareceu aqui nas terras tupiniquins, não sei lá fora. É uma espécie de balada mórbida - à propósito morbidez é um adjetivo bom para as músicas paradoxalmente animadas deles. Essa composição me lembra The Cure, tem uma melodia mais preguiçosa e um refrão bem forte. A letra fala do desprezo do sujeito com os seus casos amorosos, mostrando como ele não se importa mas a separação é algo muito grande. Os próprios componentes da banda admitem não querer passar nenhuma mensagem m suas letras, portanto elas não são lá muito criativas. Em seguida a polaridade é invertida em um riff carregado de raiva e distorção. "Evil and a Heathen" é uma música explosiva e um dos motivos pelos quais esse álbum é tão diferente do primeiro, com muita distorção em uma das guitarras e uma melodia raivosa nos vocais. Mantendo o clima, a sexta faixa é mais dançante que as duas anteriores, com a guitarra interessante acompanhando o vocal e um solo de guitarra no meio, mas que não é exatamente um solo de acordo com o que nossos ouvidos estão acostumados. O final dela é repentido então para a entrada da faixa mais surpreendente do disco na minha opinião.

"Eleanor Put Your Boots On" é uma composição perdida dos Beatles. Isso não é verdade, mas poderia perfeitamente sê-lo. Os vocais aqui são um pouco mais agudos, a base é feita num violão e um piano acompanha a músca inteira, que tem um ritmo mais acelerado que o de costume da banda. Após todos os refrões uma ponte é feita com a guitarra mais distorcida e o piano. O piano também é ator de um belo riff que está tanto na introdução quanto em uma transição no decorrer da faixa. Essa música é uma prova concreta de como o quarteto de Liverpool impôs um curva na história da música mundial. Uma das maiores surpresas que o Franz Ferdinand já me proporcionou é essa linda composição. Se você não quiser ouvir o disco inteiro ouça essa música. Só atente para o fato de que no clipe, como é de costume da banda, a música é um pouco diferente, mais acelerada e tem um bandolim no lugar do piano em algumas partes. Agora, se você gosta da banda e quer ser surpreendido mas já conhece essa música procure covers que eles tenham tocado. Um belo exemplo é a cover de "What You Waiting For" da Gwen Stefany, ex-vocalista do No Doubt e atualmente seguidora do legado Britney Spears. O "clipe" - na verdade é uma montagem - clicando aqui.

Depois desse divisor de águas na concepção do que era e o que é o Franz Ferdinand voltamos à nossa programação normal com a empolgante "Well That Was Easy". Seu maior trunfo é sua finalização. Se não fosse por ela seria uma música bem semelhante às anteriores. Isso entretanto não impede que ela seja uma boa música, apenas não vai além do que está no resto do disco. A faixa seguinte começa com uma poderosa introdução, que levanta ainda mais o já alto nível de energia presente. Apesar de ser agradável ela peca pelo excesso, pelo menos essa sempre foi a minha opinião em relação a ela. Imagino que se "What You Meant" terminasse na penúltima estrofe seria bem melhor. Mas é apenas um pequeno detalhe. "I'm Your Villain" é outro ponto alto do álbum. Seus riffs são poderosos, empolgantes, impõem-se no ambiente. A linha de baixo dela ajuda, bem grave e simples compõe o clima da música. A bateria dela também de destaca, enfim, é uma música muito boa.

A próxima faixa - que dá nome ao disco - vem depois do bom solo que finaliza a anterior, com uma abertura sensacional apenas com o vocal e a guitarra. Eu acho que ela é a melhor faixa do disco, excluindo-se "Eleanor Put Your Boots On", já que esta foge bastante do estilo da banda. Com um ritmo bem rápido e ascendente, ela é a mais empolgante e tem um solo - eles são mais um dos fatores que diferenciam esse disco do anterior - muito bom. Sua finalização é tão empolgante quanto todo o resto, porém é em um nível acima de energia e termina de repente, introduzindo a canção de ninar do disco, "Fade Together".

Encaminhando-se para o final uma baladinha, com o piano realizando seu papel e mostrando a gama de possibilidades dessa banda. Para terminar o ótimo álbum, "Outsiders" tem certa influencia de funk nas guitarras e no baixo, mas a utilização de um sintetizador tranporta a música para o espaço sideral. Um ÔÔÔôôôô intermitente na faixa contribui para o clima de estranheza que ela provoca e o solo - novamente ele - feito no sintetizador reintroduz a primeira estrofe para terminar bem o disco. Enfim, se você gosta de um rock mais cru e da sonoridade dos grupos britânicas, mas não conhece bandas mais novas essa é uma excelente oportunidade. E se você é indie obviamente conhece o Fraz Ferdinand e se nunca ouviu esse disco está no prejuízo.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

03. The Black Crowes - Shake Your Money Maker

A banda (na época desse disco):

Chris Robinson - vocais
Young Rich Robinson - guitarra (solo)
Jeff Cease - guitarra (base)
Steve Gorman - bateria
Johnny Colt - baixo





Lançamento: Jan/1990


Playlist:

01. Twice as Hard
02. Jealous Again
03. Sister Luck
04. Could I've Been so Blind
05. Seeing Things
06. Hard to Handle
07. Thick N' Thin
08. She Talks to Angels
09. Struttin' Blues
10. Stare it Cold

Adoro esse disco. Simples assim. Eu comprei ele em 2004, numa viagem pro exterior. Até onde eu sei nem adianta você sair como um louco - por que eu vou sim tentar fazer você também se apaixonar por esse disco - já que ele saiu de catálogo aqui no país do carnaval há algum tempo. Mas com as maravilhas da internet eu tenho certeza que você consegue ele de outras formas.

Essa banda é uma das minhas favoritas. Como esse é o primeiro álbum gravado pelos Black Crowes, dá pra perceber que eles se formaram pouco antes dos anos 1990, na verdade nem tão pouco, foi em 1984 e eles são estadunidenses. Eles ainda estão na ativa, digo os irmãos Robinson, já que a formação teve diversas alterações durante os anos. O último disco de estúdio dos caras é o "Lions", de 2001, quem quiser procura por que é bom, apesar de nem tanto quanto esse. Eles lançaram uns discos ao vivo, mas isso não conta, o último foi em 2006, ou seja eles estão na ativa. Outras coisas legais desse disco: (1) o produtor executivo é o Rick Rubin - não sabe quem ele é? Vou dar uma canja e você pode clicar aqui. (2) O nome "Shake Your Money Maker" vem de um blues homônimo que um cara chamado Elmore James compôs na década de 1960 e os Black Crowes gravaram num cd duplo de um show que eles fizeram com o Jimmy Page - também não sabe quem é? Pede pra sair! Procura no Google e eventualmente você vai acabar descobrindo alguma música que ele compôs e você conhece (leia-se: "Stairway to Heaven" e/ou "All My Love" e/ou "D'yer Mak'er").

Pra quem gosta de rótulos, eles tocam um hard rock ou stoner rock; prefiro falar das influências: a maior de todas e mais clara são os Rolling Stones. Outras bandas de rock setentistas também entra na lista, como Led Zeppelin ou mesmo os antológicos Creedence Clearwater Revival, Lynryd Skynryd e até Beatles. O que isso significa? Eles tocam um rock mais baseado em riffs basicões mesmo, usam muito os famosso três acordes e solos genuínos, sem a aporrinhação dos virtuosi, ou seja são autênticos blueseiros, além de contar com um vocalista com um tom de voz sensacional e que parece uma hippie. Além disso eles abusam do piano - nos créditos do disco está escrito assim: Músicos adicionais: Chuck Leavell: piano, órgão e jaquetas caras - sempre lembrando o blues e dando um tom de música de saloon pra sonoridade da banda . Outra coisa que eu diria do estilo deles é que eles soam como bandas velhas - os roqueiros setentistas - que se mantiveram e sofreram pequenas influências do mundo dos anos 1980 e 1990.

Nesse álbum estão as baladas mais famosas deles. Apesar disso não é só de musicas pra escutar abraçado com a namorada que vivem os corvos daquele desenho antigo. A banda toca abertamente roquenrou, logo eles têm músicas agitadas e eu diria inclusive dançantes. Quem já ouviu alguma coisa deles conhece pelo menos duas músicas: "Remedy" - do segundo disco - e "She Talks to Angels" - faixa de número oito aqui - , uma das mais bonitas músicas que eu já ouvi. Com um riff de violão muito agradável, acompanhado do piano certeiro e a linda melodia dos vocais de Chris. Logo depois da metade um verso à parte entra fazendo uma reintrodução do violão, que inclusive lembra muito as baladas dos Rolling Stones. As outras baladas são "Sister Luck", também bem parecida com os Stones e "Seeing Things", bem mais devagar e melosa que as outras duas, mas muito boa e com um refrão que usa de todo o grande potencial da voz de Chris Robinson. Ainda sobre as baladas, as letras aqui são meio depressivas, falando sobre perda, vício e tristeza de uma forma geral; no decorrer dos trabalhos da banda as letras vão mudando para o tema do amor de uma forma mais viva e alegre.

As outras sete músicas são um rock mais puxado para o blues. Todas com refrões marcantes e riffs bem característicos da banda. Destaque para "Jealous Again", uma das que mais fizeram sucesso, com o tom meio "pub", devido à forma como o piano é tocado, inclusive no rápido e muito bom solo. Outra caacterística da banda, principalmente desse álbum são as "paradas" que as músicas costumam dar, silenciando a cozinha - baixo e bateria - e ressaltando o vocal e as guitarras e criando um pequeno suspense, normalmente para o refrão ou para uma reintrodução. Exemplos são "Struttin' Blues" e "Hard to Handle", que inclusive é uma versão de um blues da década de 1960 e a única música não creditada aos irmãos corvos.

A abertura é uma música que parece ter sido gravada durante um gig - aqueles shows gigantes em estádios - tamanha a sua energia. "Twice as Hard" tem um riff muito empolgante, assim como os excelentes pré e pós-refrão - feitos em "paradinhas"- e um solo honesto e sem muita firula. Outro momento de destaque é a música "Thick N' Thin", logo após a já mencionada "Hard to Handle", com um começo surpreendente e de andamento mais rápido, é a faixa com mais energia do disco. O solo fica na introdução e no final e o refrão tem uma seqüência interessante de acordes. No meio uma pequena brincadeira com o piano e uma parada muito bem colocada, chamando de volta para o refrão final que termina em um solo geral. Música para se ouvir em uma das highways estadunidenses a uns 140km/h.

Após a boa "Struttin' Blues", que parece mais com as bandas que influenciam os Black Crowes e menos com o estilo que eles desenvolveram, vem a empolgante "Stare it Cold". A última música do disco é baseada num riff de blues mais preguiçoso e sobe em energia durante o refrão, mas se mantendo sempre no ritmo arrastado. O uso do piano e teclados nela é novamente pontual e certeiro, dando o clima de música de saloon do velho oeste estadunidense. Mais uma vez o recurso da "parada" é utilizado, aqui para a reintrodução da música aos últimos dois minutos, que contém um refrão e uma ponte que altera a música para um ritmo bem mais agitado, com uma combinação dos vocais - a letra aí entrando com a metragem perfeita das sílabas - piano, guitarras e cozinha para terminar o disco fervendo com uma expressão perfeita para descrever o que se passou durante os últimos 45 minutos: "Oh yeah!". E tenho dito.