segunda-feira, 21 de julho de 2008

12. Pearl Jam - Vs.


A banda:

Eddie Vedder – vocais/guitarras
Stone Gossard – guitarras
Mike McCready – guitarras
Jeff Ament – baixo
Dave Abbruzzese – bateria





Data de Lançamento: 19/10/1993

Playlist:

01. Go
02. Animal
03. Daughter
04. Glorified G
05. Dissident
06. W.M.A.
07. Blood
08. Rearviewmirror
09. Rats
10. Eldery Woman Behind the Counter in a Small Town
11. Leash
12. Indifference

Antes de mais nada, me desculpem pela ausência, não vou ficar tentando explicar o por quê, vai tomar muito tempo e eu tenho preguiça. Mas cá estou de volta para reviver o blog, com uma das minhas bandas favoritas. (Re)comecemos então, uma pequena introdução histórica.

Os primeiros anos da década de 1990 fora muitíssimo prolíferos para o roquenrol. Vínhamos das ombreiras, dos óculos estranhos, das combinações bizarras, dos cabelos mais volumosos que tudo o que já havíamos visto. Deixando para trás os absurdos anos 1980, com todo o seu glamour e brilho, tivemos um choque contra isso surgindo das garagens estadunidenses. Mais precisamente numa cidade do estado de Washington, chamada Seattle. Cidade esta que abrigava muitos lenhadores nos anos 1980, já que o estado de Washington fica na fronteira noroeste dos EUA com o Canadá. Foi lá que, no finalzinho dos anos 1980, surgiu um movimento dentro do roque que causou uma reviravolta na cena musical da época. Todo o glamour e firulas do que conhecemos como “metal farofa” causou uma raiva tremenda nos roqueiros órfãos da fúria e simplicidade dos anos 1970, com banda como Ramones, Led Zeppelin, AC/DC, Black Sabbath etc. Das profundezas das garagens dos lenhadores saíram, então jovens vestindo camisas de flanela xadrezas, com as longas madeixas ensebadas até o limite do impossível, tocando acordes bravos em suas guitarras velhas com a distorção no talo e trouxeram a testosterona de volta para o mundo do roque.

Algumas das figuras que surgiram daí, todas meio diferentes, mas que acabaram no mesmo balaio de gato que resolveram chamar de “grunge”: Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden e, é claro o Pearl Jam. Para quem tiver preguiça de olhar num dicionário ou nunca teve curiosidade, “grunge” significa sujo, ensebado mesmo. É meio que o que existe em comum no som de todas essas bandas: é sujo, cheio de detritos sonoros, como microfonias e distorções, é pesado e direto, sem frescuras. E o Pearl Jam era um dos principais representantes desse estilo. E dos que eu enumerei o único sobrevivente à passagem dos Backstreet Boys, Britney Spears e cia pelos anos 1990. É bom deixar claro que não são os únicos que realizaram a proeza, mas são os que mais se expuseram à mídia.

Vs. é o segundo disco do Pearl Jam, com uma formação um pouco diferente do debute da banda, Ten, de 1991. O que não muda muito o som deles, que se manteve muito agressivo e barulhento; um bom adjetivo seria primitivo. Eddie Vedder é um vocalista de mão cheia, bem como todos os seus companheiros e todos melhoraram bastante ao longo do tempo. A primeira música já mostra o que eu disse sobre o primitivismo: a bateria bem marcada e o baixo muito mais alto que as guitarras, além dos gritos de Vedder. “Go” nos abre o apetite para o que virá, deixando claro o quanto a banda é explosiva. Temos uma bela tensão na maioria das faixas do disco e, como estamos falando de grunge, alguns dos solos às vezes passam despercebidos, pois não são os grandes astros das composições. O Pearl Jam é também excelente em passar sentimentos em suas músicas, mais do que fazer solos mirabolantes ou músicas dificílimas. Não sei se é o objetivo, mas é o que percebemos ao longo de sua discografia. E o sentimento mais expresso por eles é justamente a raiva primitiva, intrínseca em nós das primeiras faixas.

Entretanto nem tudo são espinhos em Vs. A terceira faixa, a mais conhecida do álbum já muda a raiva para algo mais macio, que não sei como consegue parecer paternal, inspirador, com o irônico título de “Daughter”. Os riffs das músicas desse disco são todos extremamente inspirados, como o de “Glorified G”, que mostra a veia um pouco mais política da banda, cantando contra as armas e, dependendo da sua viagem, chegando a compará-las com Deus. Outro grande riff é o da música seguinte, “Dissident”, que muda de repente seu estilo para o refrão, subindo muito a energia, tudo baseado no riff, muito simples, com poucas notas. Essas três faixas compõem o momento mais tranqüilo do disco, depois de toda a braveza das duas primeiras faixas. O trabalho da banda deve, é claro, ser elogiado em ambas as sintonias, raivosos ou não, a trupe de Vedder consegue fazer músicas de altíssima qualidade e que perduram até hoje. Em nenhum show a banda deixa de tocar músicas desse disco, por exemplo.

Nesse álbum inicia-se uma espécie de tradição no Pearl Jam: incluir músicas mais experimentais nos discos. W.M.A. é uma faixa completamente diferente do resto do disco, mais caótica, com uma letra estranha, cantada de forma bizarra e com a bateria de Abbruzzese tocada magistralmente nos colocando num transe, junto com o baixo de Ament – esse transe compõe a maior música do disco. Nessa faixa cantos primitivos que parecem rituais emergem e nos sentimos numa tribo pré-historica ou algo parecido. A grande importância dessa musica no disco é apontar um novo momento. Toda a raiva inicial volta, ainda maior em “Blood”, que tem uma batida de funk, no estilo de Red Hot Chili Peppers, com um riff pesado por cima e os gritos de Vedder completando a receita.

Começa então uma das melhores composições de toda a carreira do Pearl Jam. “Rearviewmirror” é uma bomba-relógio, que sobe, sobe e sobe de forma angustiante e chega num dos momentos mais barulhentos do disco, quase que um orgasmo. Não bastassem os dois grandes guitarristas da banda, Vedder chega a tocar uma terceira guitarra nessa faixa. Os backing vocals também são perfeitamente encaixados – também são três na faixa. No final todos os intrumentos vão à loucura, a bateria se torna uma locomotiva atropelando todos e finalmente acaba a melhor faixa do disco. O que não torna o que virá ruim. Muito pelo contrário, “Rats” com seu estilo mais parecido com Alice in Chains e “Eldery Woman Behind the Couter in a Small Town”, música para se tocar com os amigos, com uma belíssima letra, são excelentes. "Leash" se destaca dessas duas, sendo novamente raivosa e barulhenta, com a letra muito boa também e um riff mais uma vez louvável; é mais parecida com “Rearviewmirror”, mas não tão boa.

“Indifference” termina com chave de ouro o disco, apesar de ser muito diferente das outras. É a mais próxima do experimentalismo de W.M.A., muito calma, tem o tom melancólico de uma bela ressaca. É o que acontece depois de tantas explosões, é um encerramento conseqüente do que foi o resto do disco. Todos os instintos libertos, tudo acontecendo rápido demais, intensamente demais, termina com a reflexão que leva à melancolia dessa última faixa. É uma música que te convida a pensar e se perguntar, como Vedder canta: “how much difference does it make?” (“quanta diferença isso faz?”). O silêncio final é angustiante e pedimos desesperadamente pelo conforto da próxima faixa que não virá. Como eu disse, o Pearl Jam é excelente em criar sentimentos. Um dos “salvadores do roque” em um dos pontos altos de sua carreira. Obrigatório e ponto final.

sábado, 31 de maio de 2008

11. Blind Melon - Blind Melon

A banda:

Shannon Hoon - vocais
Christopher Thorn - guitarra
Rogers Stevens - guitarra
Brad Smith - baixo
Glen Grahan - bateria


Lançamento: 14/09/1992


Playlist:

01. Soak the Sin
02. Tones of Home
03. I Wonder
04. Paper Scratcher
05. Dear Ol' Dad
06. Change
07. No Rain
08. Deserted
09. Sleepyhouse
10. Holyman
11. Seed to a Tree
12. Drive
13. Time


Eventualmente publicarei aqui algum CD de uma banda brasileira – mais especificamente mineira de Ouro Branco – chamada Cartoon. O som deles é basicamente roquenrol, com influências de clássico dinossauros do roque, como Led Zeppelin ou até mesmo flertando com o pop, seguindo sua grande influência do Queen. Entretanto existe um toque especial no Cartoon que faz com que qualquer coisa que eles toquem fique – como os próprios dizem – “cartooniano”. Há algo de indiano, de clássico, de hippie, que caracteriza o som muitíssimo peculiar da banda. E por que raios eu estou falando dessa banda independente mineira numa análise de uma banda californiana? Pelo simples fato de serem bandas bastante parecidas. Chuto até que os hippies do Blind Melon tiveram grande influência na música dos hippies do Cartoon. O Blind Melon tem um som quase tão particular quanto o Cartoon – não conseguem ser tão estranhos porque os cartoonianos são todos, ou quase todos, maestros formados. As influências são parecidas, Lynryd Skynryd, o próprio Led Zeppelin, os hippies originais, e não os deslocados para o inicio da década de 1990 que compunham a banda. Eles eram uma banda muito fora do circuito mainstream da época, com o grande boom do grunge, um som muito mais sujo que o do Blind Melon – Nevermind, o grande álbum do Nirvana foi lançado no mesmo ano, bem como o Ten, debute do Pearl Jam.

A banda então, não era um bom representante do grunge, apesar de guardar algumas poucas semelhanças com o Pearl Jam, o que dificultava seu aparecimento para a mídia. Entretanto, eles fizeram muito sucesso. Muito mesmo. Duas coisas colaboraram para isso: 1) como conseqüência de um amigo-de-um-amigo-meu – no caso amiga – eles foram apresentado a um certo Axl Rose, que deu a eles oportunidade de abrir alguns shows de sua banda, o pouco conhecido Guns ‘n Roses. Ninguém que abre para uma banda desse calibre passa despercebido de alguma gravadora. E foi o que aconteceu, logo conseguiram um contrato para gravarem esse disco, que é o primeiro da banda. 2) se você ainda não sabe quem é essa abelhinha na capa do disco clique aqui e refresque sua memória ou conheça o som da banda. Sim, o clipe é fofo, lindo, a abelhinha é uma gracinha e tudo mais, já chega de hormônio feminino. Com esse clipe e essa música – talvez a melhor da banda – eles conseguiram uma repercussão enorme e venderam muito.

Cansei de contar historinhas. O que eu posso falar desse disco é que ele é surpreendente. Muito mais rico que simplesmente o grande hit “No Rain”, o disco é permeado por muitas guitarras e a grande voz de Shannon Hoon, que alem disso é um belo interprete das suas músicas, colocando muitas nuances no seu vocal. Todos os músicos são muitíssimo competentes, com certo destaque para o baixista, na minha opinião, que consegue fazer suas linhas em complemento com as também boas guitarras, mas sem ficar preso nelas, apenas imitando o riff.

Basicamente, o que se escuta é roque durante o disco inteiro, roque de muita qualidade. O toque hippie vem das viagens presentes em todas as faixas, com um momento bastante dissonante. A faixa 2, “Tones of Home” é um bom exemplo de tudo isso, seguindo um padrão típico, com seu riff, refrão e etc, mas toma um momento para fugir da fórmula em direção à psicodelia, com dissonâncias, solos picados, vocais “moles”, enquanto a cozinha – baixo e bateria – mantém a lógica e, depois de uma prova do poder da voz de Hoon e outro solo mais tradicional, voltam ao modelo básico da música. A faixa seguinte também tem algo disso na sua introdução, que parece ser uma música totalmente desvinculada do que é tocado nos quatro minutos seguintes; eles saem de uma roda de hippies com um violão para um hard rock meio estilizado.
De fato não é lá muito fácil gostar do estilo que a banda toca. Não é o que estamos acostumados a ouvir, nem o que esperamos depois de assistir ao clipe de “No Rain”. Apesar da sétima faixa do álbum ter uma sonoridade bem típica do Blind Melon, ela é menos roqueira que as demais e mais próxima do mainstream. E também é bem mais próxima das mentes que escutarão o disco e não são hippies. As letras do disco têm um pouco de psicodélico, de romântico, de psicótico – ex.: “Paper Scratcher” – e os vocais são agudos, arranhados e meio lunáticos, com um jeito bem próprio de encaixar os versos. As guitarras tanto de Thorn quanto Stevens são muito autônomas, com influências indianas e roqueiras, mas não costumam ser muito ininteligíveis. A cozinha faz seu trabalho muito bem, o baixo, como já disse é bastante criativo e um pouco independente das guitarras e a bateria está sempre mantendo a banda no lugar, mas sem ser repetitiva ou excessiva.

“Change” é uma faixa escolhida a dedo para preceder “No Rain”. Ela é mais calma, menos elétrica – na verdade nada elétrica – e usa instrumentos que quase não serão usados no resto do disco, o bandolim e a gaita. É bem “música para acampamento”, para tocar numa roda com os amigos, com um clima mais tranqüilo. É uma composição muito boa, que fez certo sucesso também, imagino que por sua semelhança com o hit que a segue. A faixa 7 tem base em violão, sem riff, ao contrário das bases do resto do álbum. O riff é tocado pela guitarra de solo, que faz qualquer um ter vontade de sair dançando como um hippie louco. É uma música muitíssimo agradável de se ouvir e a melhor letra do disco na minha opinião. Não é à toa que foi o grande hit da banda.

Depois de “No Rain” estamos de volta ao roquenrol da banda, com uma boa música, cheia de energia e com uma letra que eu gosto de chamar de psicótica. Leia e tire suas prórpias conclusões das imagens oníricas de “Deserted”. Outro destaque do disco é “Sleepyhouse”, faixa seguinte que começa na Índia e se desenvolve para uma quase balada. A voz aqui é menos arranhada, mais macia, e o andamento mais lento para chegar ao refrão, onde a música ganha um nível mais elevado de energia.

Uma temática comum do disco são as viagens não apenas causadas pela música, mas principalmente as psicotrópicas. É aqui que vem a parte mais triste da banda. Hoon era um hippie mais “hardcore” e era viciado em drogas. Em entrevistas ele afirmou não ter recordações de quando gravou nenhuma das músicas e foi internado algumas vezes em clínicas de reabilitação. Após as gravações do segundo disco da banda, durante a turnê ele tentou se manter longe das drogas, mas acabou morrendo de overdose em outubro de 1995, deixando o roque sem o seu grande talento, tanto como letrista quanto como vocalista. A banda tentou continuar com o baixista cumprindo também o papel de vocalista, mas logo declarou seu fim. Outras duas curiosidades para quebrar o clima. A abelhinha da capa do disco e estrela do clipe é irmã do baterista, Glen Grahan e nomeou um disco da banda lançado com os restos de gravação que Hoon deixou prontos. E o estranhíssimo nome da banda é como o pai de Brad Smith chamava um casal de hippies que eram seus vizinhos. Se você gosta de bandas como The Black Crowes ou mesmo dos dinossauros do roque, você provavelmente vai gostar de Blind Melon. Hippies também são bem vindos, bem como os que convivem com eles.

sábado, 3 de maio de 2008

10. Bob Dylan – The Freewheelin’ Bob Dylan




A banda:
Bob Dylan – vocais/violões/gaitas







Lançamento: 27/05/1963


Playlist:

01. Blowin’ in the Wind
02. Girl from the North Country
03. Masters of War
04. Down the Highway
05. Bob Dylan’s Blues
06. A Hard Rain’s A-Gonna Fall
07. Don’t Think Twice, it’s All Right
08. Bob Dylan’s Dream
09. Oxford Town
10. Talking World War III Blues
11. Corrina, Corrina
12. Hony, just Allow Me One More Chance
13. I Shall Be Free


Bob Dylan é uma lenda viva. É com certeza o músico mais influente vivo – em se considerando que os Beatles foram uma banda, apesar de quê, eles foram influenciados por esse caipira. Escolhi fazer a análise desse disco porque ele vem me aliviando muita coisa. É um disco muitíssimo simples e considerado por muitos o melhor da longuíssima carreira do artista – seu primeiro álbum, homônimo e só de covers, é de 1962. Nesse segundo disco, Dylan toca sozinho – exceto em “Corrina, Corrina” – como se estivesse sentado em um bar com seu violão e sua gaita; esse é um dos fatos admiráveis quando se fala dele: com apenas 22 anos e um contrato prestes a ser perdido pelas terríveis vendas do seu primeiro disco, ele simplesmente grava sua obra-prima que, sem usar de quase nada se torna um dos discos obrigatórios aos ouvidos de qualquer pessoa sensata.

O folk, estilo que permeia o álbum e a carreira de Dylan era, na época, um estilo subversivo, adorado pelos universitários e boêmios dos EUA. Protestos eram sempre feitos através das canções folk, é só lembrarmos de Johnny Cash e mesmo prestar atenção a algumas das músicas desse disco, como “Masters of War” e “A Hard Rain’s A-Gonna Fall” para vermos a inspiração contestadora para a gravação. Uma das características que destacaram Dylan na época e destacam-no até hoje é sua facilidade de compor letras muito superiores à média. Sua outra inspiração para compor foi a sua namorada Suze Rotolo, que na época estava na Itália. Suze, à propósito é quem divide a linda capa do disco com Dylan.

A primeira música do álbum é uma masterpiece, como se diz no idioma de Shakespeare. É uma música que, apesar de ser muito simples, tem uma memorável letra de questionamentos, o que veio a ser uma das marcas do artista. “Blowin’ in the Wind” é a música desse álbum que todos nós já havíamos escutado antes mesmo de conhecer Dylan, tal a sua repercussão global. Em menos de três minutos as vendas do disco estavam garantidas e a carreira de Dylan salva com a boa escolha de se abrir o álbum com esse clássico.

Na minha opinião, porém, a música mais surpreendente é a seguinte: “Girl from the North Country”. Talvez por eu já conhecer a anterior, mas a sutileza da segunda faixa tanto em sua letra apaixonada como pela melodia do violão e vocal, como pela bela demonstração de como se tocar uma gaita e até a forma como Dylan consegue trabalhar sua voz rouca e pouco musical. Desde a primeira vez que ouvi o álbum essa era minha canção favorita. Além dela, “Down the Highway” também recebe um toque da melancolia do amor distante de Dylan e mostra, de quebra, sua grande habilidade com o violão. Essa habilidade é vista também em “Don’t Think Twice, it’s All Right”, porém nela não é o amor o tema, mas o fim dele.

A veia política também é ressaltada, como foi dito antes, em canções com o violão sempre bem repetitivo, não em um sentido negativo, mas com a intenção de manter a atenção na letra, eu imagino. Mesmo que a melodia do violão seja repetitiva como característica do folk, aqui ela se torna quase hipnótica, conseqüência da duração dessas canções, todas com mais de quatro minutos, contrastando por exemplo com o 1:50 de “Oxford Town”.

Algumas músicas são simplesmente uma diversão. Não têm preocupação com uma letra profunda, mas sim com o processo de composição por si só. “I Shall Be Free” e “Bob Dylan’s Blues” são exemplos claros disso; o cantor inclusive dá risadas no decorrer da última. São músicas mais orgânicas, que você pode escutar sem se preocupar com absolutamente nada. Outras duas faixas devem ser mencionadas também: “Corrina, Corrina” e “Honey, just Allow Me One More Chance”, ambas versões, a primeira uma músicas tradicional estadunidense e a segunda de , ambas excelentes.

Bob Dylan, como eu já disse, é uma lenda. Na música estadunidense ele está no mesmo patamar de artistas do calibre de Elvis Presley e Louis Armstrong, para citar seus “contemporâneos” – se considerarmos a que pé andava o cenário musical no início dos anos 1960. Dylan tinha um grande ídolo, Woody Guthrie, que foi quem o fez começar a compor e contestar a sociedade. Ele é um caso no qual o aluno superou o mestre. Não é preciso dizer que Dylan é obrigatório para qualquer um mas, se for preciso escolher apenas um álbum, eu não hesitaria em dizer The Freewheelin’ Bob Dylan.

quarta-feira, 26 de março de 2008

09. The Doors - The Doors

A banda:


Jim Morrison - vocais/poética
Ray Manzarek - teclados
Robert Krieger - guitarras
John Densmore - bateria




Lançamento: Jan/1967


Playlist:

01. Break On Through (to the Other Side)
02. Soul Kitchen
03. The Crystal Ship
04. Twentieth Century Fox
05. Alabama Song
06. Light My Fire
07. Back Door Man
08. I Looked at You
09. End of the Night
10. Take it as it Comes
11. The End

Várias coisas chamam muita atenção nesse disco, o debute da banda californiana. O estranho nome, vindo da literatura - Morrison gostava do romance "The Doors of Perception" de Aldous Huxley e se inspirou aí para nomear a banda - o que também é bastante incomum, tendo em vista que a literatura nunca foi um tema lá muito comum entre roqueiros. A banda é da Califórnia, um lugar ensolarado e com muitas praias que anos mais tarde seria o porto de bandas de punk-pop-rock, como The Offspring e mesmo dos ensandescidos Red Hot Chili Peppers, ou seja, o obscuro The Doors é uma ovelha negra da cena de rock californiana. A capa do disco estampa enorme a face de Jim Morrison, um dos maiores frontmans da história do roquenrol, enquanto os outros membros da banda se espremem na sombra que resta, como se fossem parte da mente perturbada do vocalista. Outro fato quase que absurdo da banda é a falta de um baixista. Ao escutar o disco nos perguntamos quem é o baixista que existe em todas as faixas e então nos revoltamos por seus créditos não estarem devidamente expostos no encarte. O que acontece com o The Doors (essa redundância de artigos é irritante, eu sei) é que o talentosíssimo tecladista Ray Manzarek se utiliza do órgão para fazer o acompanhamento com a bateria, substituindo perfeitamente o baixo, como fica claro, por exemplo na faixa quatro, "Twentieth Century Fox".

Escolhi esse disco porque estava com saudade dos clássicos dos anos 1960-1970. E, assim como o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, o debute do The Doors é um quarentão. E mostra como é um clássico desde a primeira faixa, um dos maiores hits da história, "Break On Through (to the Other Side)". Essa música foi o primeiro single do disco, ou seja, a primeira música da banda que foi tocada nos rádios e ela não deixa dúvidas da potência da banda, de toda a sua raiva e qualidade. Apesar das limitações técnicas de Morrison como vocalista - sua voz grave não tem muitas possibilidades - a paixão com que as letras são cantadas é invejável. Eu disse letras, mas o mais indicado seria chamá-las de poemas, já que a cultura literária de Morrison é ainda mais invejável que sua paixão e suas composições não deixam dúvidas disso.

Agora está justificada a capa do álbum. Muito do que torna o The Doors uma banda clássica e das mais influentes dos mais de 50 anos da história do roquenrol é devido a Morrison. Suas performances são inigualáveis, não apenas em shows - onde recitava poemas entre as músicas - mas inclusive no estúdio. Ele também elevou o roquenrol a um nível cultural sem precedentes na grande mídia. Lembro de uma frase de Renato Russo em que ele respondia sobre o que ele achava de todos idolatrarem suas letras. Disse sem medo de ser feliz que a juventude brasileira é aculturada e que não lê praticamente nada. É mais ou menos o que ocorre com Jim Morrison. Ele se permite uma maior intelectualidade em prol da boa música. Obviamente a banda tem também excelentes músicos. Todos são referências respeitadas hoje em suas devidas posições. O disco mostra bem o alto nível dos teclados e guitarras em outro clássico dos clássicos, "Light My Fire", com solos tanto de órgão como de guitarra e um show de bateria.

O The Doors é uma banda única para o seu porte. Houveram e ainda existem bandas que têm mais ou menos o estilo deles, mas nenhuma jamais alcançou seu sucesso, muito devido à originalidade - o The Doors foi o primeiro a fazer as misturas que fez nos EUA - e também ao carisma de Morisson. Misturando folk, psicodelia, blues, jazz e literatura, conseguiram fugir da semelhança com bandas britânicas, como o Jethro Tull ou Led Zeppelin que têm exatamente as mesmas influências, pela atuação do vocal muito particular e pela introdução da cultura estadunidense na sua música. Com isso, músicas como "Alabama Song" e "Twentieth Century Fox" se tornam fatores consideráveis na diferenciação da banda para tantas outras próximas no estilo, colocando-os em um estilo diferente do das bandas que citei.

O disco contém dois grandes hits bem diferentes entre si - "Break On Through (to the Other Side)" mais roqueira e com um tema suicida e "Light My Fire" inclinada para a psicodelia e, ao contrário da primeira, versa sobre paixão, chegando ao nível do erotismo - mas não são os únicos destaques. O blues "Back Door Man" é excelente e mostra a versatilidade dos músicos quando comparada, por exemplo à faixa 2 "Soul Kitchen", que tem mais groove, é mais dançante. Na outra ponta temos a melancólica "The Crystal Ship", que tem uma deixa de amor perdido, tanto na melodia quanto na letra. "I Looked at You" mostra o legado dos Beatles, é uma composição muito semelhante às de McCartney no início da carreira. "End of the Night" é exatamente o que o título sugere e nada pode tirar isso dela, foi composta à perfeição para dar esse clima e ponto final (.)

O acontecimento que encerra o disco é, convenientemente, "The End". Durante homéricos 11:41min uma música lenta e muitíssimo melancólica se arrasta, começando com os versos "This is the end/Beautiful friend, the end/My only friend, the end" ("Esse é o final/Lindo amigo, o final/Meu único amigo, o final"). Um surto psicodélico se segue com os três músicos mostrando a que vieram e Morrison cantando sobre garimpeiros desconhecidos e ônibus azuis - amostras: "The west is the best" ("O oeste é o melhor") e "The blue bus is calling us" ("O ônibus azul está nos chamando"). Se alguém conseguir entender isso me conta, porque eu não tenho inteligência suficiente. Em seguida uma história surge. O matador se levanta e, atravessando a casa chega na porta do quarto dos pais. Morrison canta então com uma calma perturbadora o diálogo: "Father/Yes son/I want to kill you" ("Pai/Sim filho/Eu quero te matar") e depois num acesso psicótico do vocal o filho diz à mão que quer foder com ela. Sim, para delírio dos psicanalistas de plantão, a tragédia grega "Édipo Rei" está ali jogado na nossa cara. Eu tinha avisado antes sobre a mente perturbada de Morrison. O último verso consuma o que viria a ser o melhor disco da banda e um clássico para o mundo, recomendado a qualquer um que tiver coragem de se arriscar no mundo surrealista do The Doors: "This is the end".

sábado, 1 de março de 2008

08. Red Hot Chili Peppers - Stadium Arcadium













A banda:

Anthony Kiedis: vocais
Flea (Michael Balzary): baixo/backing vocals
John Frusciante: guitarra/backing vocals
Chad Smith: bateria/backing vocals


Lançamento: 09/05/2006


Playlist:

CD 1 - Jupiter
01. Dani California
02. Snow ((Hey Oh))
03. Charlie
04. Stadium arcadium
05. Hump de Bump
06. She's Only 18
07. Slow Cheetah
08. Torture Me
09. Strip My Mind
10. Especially in Michigan
11. Warlocks
12. C'mon Girl
13. Wet Sand
14. Hey

CD 2 - Mars
01. Desecration Smile
02. Tell Me Baby
03. Hard to Concentrate
04. 21st Century
05. She Looks to Me
06. Readymade
07. If
08. Make You Feel Better
09. Animal Bar
10. So much I
11. Storm in a Teacup
12. We Believe
13. Turn it Again
14. Death of a Martian


Não existe ninguém no mundo ocidental que, em 1999, tivesse mais de 10 anos e não conheça os Red Hot Chili Peppers. Ok, isso é um exagero e tanto, mas é fato que o mundo dessa banda não foi o mesmo depois do lançamento de Californication. Quem não se lembra da baladíssima “Scar Tissue” ou da loucura de “Otherside” e de seus clipes, assim como o clipe-videogame de “Californication”? O tocador de violão que nunca tentou tirar alguma dessas músicas que atire a primeira pedra. Por mais que os Chili Peppers – apelido estadunidense para o que nós, meros latinos chamamos de Red Hot – fossem, já em 1991 com o obsceno Blood Sugar Sex Magik, uma banda de muito sucesso, isso não chega aos pés do que foi Californication. A banda se virou mais para o mundo pop, pegando mais leve nas insanidades funkadélicas dos álbuns iniciais e estava renascendo, depois do depressivo álbum de 1995, One Hot Minute, com a volta do guitarrista nascido e criado pela banda, John Frusciante. Outra razão fundamental para a mudança no estilo da banda foi o divorcio dos integrantes com as drogas, causa para o afastamento de Frusciante e perda de amigos pelos integrantes – a mais clássica música da banda, “Under the Bridge” foi composta em homenagem a um desses amigos.

Com todo o estardalhaço em volta do disco de 1999, a expectativa sobre o próximo álbum era monstruosa. Dá pra imaginar a surpresa quando, em 2002, By the Way, o disco mais comportado e melódico da banda foi lançado. Alguns fãs rechaçaram o novo trabalho da banda, chegando a dizer que é o pior já lançado, o que é um absurdo. The Red Hot Chili Peppers, primeiro disco deles, é tão bom que parece que foi gravado debaixo de um viaduto congestionado. O disco de 2002, 8º de estúdio da banda, é simplesmente um reflexo da evolução tanto da banda quanto do mercado e indústria fonográficos, poderosíssimos nos primórdios dos anos 2000. Então os Chili Peppers voltaram para o estúdio e, após uma longa espera de quatro anos, surgiram as notícias de que em torno de 40 músicas haviam sido compostas pelo quarteto. Bastante coisa, não? E enquanto isso, na louca mente de Frusciante o projeto de lançar um disco solo por bimestre seguia. Em 2004 foram cinco álbuns lançados.

Pois bem, como resultado de toda essa balbúrdia, recebemos Stadium Arcadium. A idéia original era de lançar três discos separados em 18 meses, mas acabou sendo resolvido que apenas um disco duplo – primeiro da carreira da banda – seria lançado com 28 faixas e mais 10 músicas seriam lançadas como lados-b. O primeiro piscar de olhos do álbum foi “Dani California" e seu maravilhoso clipe. Ouvi-la foi um alivio para muitos fãs. Ela tem uma pegada bem roqueira, nem tão melódica nem tão caótica, não perde a essência da banda nem fere os ditames do mainstream. Parecia que tudo seguiria bem. Algumas coisas se podiam inferir dessa musica também: Flea continuava bem como sempre foi; Kiedis nunca cantou tão bem, coisa que vinha ocorrendo desde Californication; a bateria de Chad também se mantinha muito bem. Mas havia algo de diferente, algo que ia além do que eles já haviam feito; as coisas estavam melhores do que imaginávamos . É aqui que entram os anos de carreira solo de Frusciante. O seu amadurecimento musical é impressionante. Novamente - desde Californication ele vinha acompanhando os vocais de Kiedis - está sempre lá, sua vozinha aguda e insistente. Agora, mais do que nunca, ele vem presente nos backing vocals e mais, suas melodias nunca foram tão boas. Claro, ele compôs “Under the Bridge” não há como negar que é uma das melhores músicas da banda, mas agora ele vem com um caminhão de músicas desse peso, “Snow ((Hey Oh))” vem logo depois de “Dani California" nos mostrar isso.

A banda evoluiu, mudou, ficou mais fácil de se ouvir, mas não esqueceu em momento algum as suas raízes, na mistura de punk com funk com obscenidade, com rock, com drogas, com hip-hop, com sei-lá-mais-o-quê. A terceira faixa do CD 1 nos mostra parte disso. Apesar de “Charlie” ser uma música melodiosa, é inegavelmente influenciada pelo funk, desde sua introdução no baixo até a faixa quebrada de guitarra, mas com pitadas do mercado pop. Obviamente ela não é a única assim das 28 que compõem o álbum. “Hump de Bump” é uma visão ainda mais próxima do que foi a banda em nos idos dos anos 1980 – quando eles eram indie, nome fofinho de hoje para o que na época era chamado de alternativo, porque era muito estranho para ser absorvido pelo mercado fonográfico – mas com a maturidade que eles alcançaram agora: a obscenidade foi abrandada, os vocais são compreensíveis, Flea deixa a marca de seu trompete e a guitarra se apresenta mais marcante, além de uma inusitada parada para a percussão, nessa música especificamente. Na verdade, o disco que leva o nome do grande deus dos deuses romanos é, de forma geral mais negro, no sentido étnico da palavra mesmo. Ele é mais próximo do funk e do hip-hop; “Torture Me” e “So Much I” são assim, mas sem nos deixar esquecer de que a banda agora é mais melódica, mais preocupada com o ouvido alheio. “Torture Me”, na verdade é parecida com o que eram os Chili Peppers em Blood Sugar Sex Magik, assim como “Warlocks”

Músicas como “Slow Cheetah” e “She Looks to Me” também mostram essa preocupação. Elas são, de fato faixas melódicas, mais calmas e fáceis de se ouvir e gostar. “Especially in Michigan” é outra música melódica, mas sem fugir do rock, lembrando muito o que era feito em Californication. Abrindo Mars, o CD 2, temos “Dessecration Smile”, que segue mais o que foi feito no By the Way, assim como “Tell Me Baby”, que se assemelha a “Can’t Stop. A faixa que dá titulo ao álbum mostra também a face melódica da banda, mas além disso vemos um pouco do que foram os Chili Peppers na difícil fase sem Frusciante: é uma musica mais melancólica, mais lenta, quase nostálgica, assim como “Strip My Mind”, que poderia compor o disco One Hot Minute sem problemas.

Podemos achar outros exemplos no disco com o nome do planeta vermelho, que é, em oposição ao caos mais presente em Jupiter, mais melódico e pop, o que eu não quer dizer que seja menos animado que o primeiro. Na verdade os discos têm uma estrutura relativamente parecida, em termos da seqüência das músicas, começando num nível mais alto de energia que, gradualmente, vai se dissipando, em faixas mais calmas. A diferença é que, em Jupiter a energia inicial é mais alta e cai mais bruscamente, enquanto Mars é mais constante. As músicas melancólicas são poucas no álbum. “Make You Feel Better” está lá justamente para mostrar como os Cili Peppers são mais animados que melancólicos; os próprios componentes cantam no refrão em coro: “We are the ones that will make you feel better” (“Nós somos os que vão te fazer se sentir melhor”).

Tudo isso ilustra a grande máxima desse álbum: ele é uma coletânea de músicas inéditas. Nada mais obvio, qualquer álbum de inéditas de qualquer banda é exatamente uma coletânea de inéditas, não é a toa que são chamados de álbuns. Stadium Arcadium, entretanto é uma revisão da banda de sua própria história. É um álbum animado, como grande parte dos antigos trabalhos dos Chili Peppers, mas tem sua pontinha de melancolia, da mesma forma. Tem musicas melódicas e musicas caóticas, tem funk, tem rock, tem punk, tem amor, tem obscenidade, tem loucura, tem gritos despropositados, enfim, ele é na verdade um grande presente da banda para os fãs. Em tempos de mp3, quando músicas, mas não necessariamente discos completos são baixados na Internet, a banda faz um disco sem um tema especifico, que comporta quase tudo o que eles já fizeram e que, por não ter uma cara pré-definida, aceita a cara que o ouvinte quiser dar. Não há sequer uma música ruim nos dois discos e, apesar de serem bem compridos – somados têm pouco mais de duas horas e meia – não são repetitivos ou cansativos. Eu sou realmente tendencioso ao dizer isso, mas não acho que a maior parte das pessoas do mundo que tinham mais de 10 anos em 1999 discordaria de mim. Tudo o que me resta é agradecer a uma das minhas bandas favoritas.


Por fim, temos algumas musicas que vou chamar de proféticas. São musicas que não lembram, tanto quanto as outras, coisas que já foram feitas, mas não fogem do que é a banda. A minha aposta é que musicas como “Turn it Again”, “Hard to Concentrate” e “C’mon Girl” mostram para onde está indo o Red Hot Chili Peppers e o que podemos esperar para um próximo disco. Outro exemplo dessa tendência é a impressionante última faixa do disco 2, Mars, “Death of a Martian”. Com o baixo e a guitarra andando juntos, um acompanhando o outro mutuamente, e de fato um clima de fim de festa, a música se encaminha, após seguir sem surpresas durante 3 minutos, para um final profético, com Smith arrastando os pratos da bateria, enquanto a guitarra sola bem ao estilo de Frusciante e Flea tenta manter algum sentido, assim como o dedilhado de guitarra que repete e repete; tudo isso com Kiedis em tom de anunciante do armagedom vomitando imagens oníricas e brincando com as palavras, rimas, assonâncias, etc. e termina o álbum num grito que deixa tudo silencioso novamente.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

07. Ok Go - Oh No


A banda:


Damian Kulash - vocais/guitarra
Andrew Duncan - guitarra (abandonou a banda após o fim das gravações do disco)
Tim Nordwind - baixo
Dan Konopka: bateria
Andy Ross - guitarra (entrou no lugar de Andrew Duncan)



Lançamento: 30/08/2005



Playlist:

01. Invincible
02. Do What You Want
03. Here It Goes Again
04. A Good Idea At The Time
05. Oh Latelly It's So Quiet
06. It's A Disaster
07. A Million Ways
08. No Sign Of Life
09. Let It Rain
10. Crash The Party
11. Television, Television
12. Maybe, This Time
13. The House Wins





O roquenrol foi renovado mais uma vez com a virada da década de 2000. Ficou mais cru, direto, e menos liso, menos uniforme. Agora a cozinha trabalha com faixas mais quebradas, mais espaços em silêncio nas músicas. Isso começou um pouco antes da virada – como qualquer transformação – com as bandas independentes que já faziam o que viraria moda. Dessas bandas de roque moderno, a primeira a explodir, em uma hecatombe equivalente a mais ou menos 214 bombas de hidrogênio, foram os novaiorquinos do The Strokes. Toda a mídia especializada fervia em cima deles no ano de 2001, quando o excelente disco “Is This It?” foi lançado. A sujeira, ebriedade, simplicidade, aliados a boas influências e ainda melhor produção fez deles mais uma das dezenas bandas que “salvaram o roquenrol”. Com isso as pequenas bandas que faziam um som parecido começaram a ganhar espaço e atenção da grande mídia. A penúltima (2003) novidade segundo os olhos dessa mídia foi o Artic Monkeys, que eu, particularmente não acho nada de demais, apenas uma tentativa de jogar os Strokes e Nirvana no liquidificador e ver o que sai. A última (2005) grande banda ajudada pela crítica e grande mídia foram os escoceses do The Fratellis, banda de fato muito boa e que vale a pena ser ouvida, mas não é de nenhum deles que vou falar.

Um dos patinhos feios dessa historia toda é a Ok Go. Juntaram-se em 1998 em Chicago e conseguiram lançar seu primeiro – e bem mediano – álbum em 2002, homônimo da banda. Talvez seja por isso que nada grande foi alardeado em torno deles, apesar de terem seus fãs nas redondezas. Em 2005 o disco da foto ali em cima foi lançado. Nessa época, porem outra coisa surgia, que mudaria os rumos da banda e também de toda a mídia de entretenimento: o YouTube. Com uma câmera em cima de algum móvel qualquer e seis esteiras de ginástica, os integrantes da banda fizeram um dos clipes mais geniais da historia: “Here It Goes Again”. E então, com um empurrãozinho da grande rede, eles ficaram conhecidos em quase todos os cantos do planeta.

Oh No, entretanto não vive apenas de idéias absurdas para clipes. Com pegada roqueira, mas admitindo uma nuance pop e uma quase ingenuidade cativante, o disco é um dos ótimos discos que o roque moderno nos trouxe. Obviamente a excentricidade das idéias dos integrantes ajuda na popularização da banda, assim como sua presença de palco bastante enérgica, mas isso não tira os créditos de músicas excelentes, como a já citada “Here It Goes Again” e a primeira do disco, “Invincible”, que é um bom tapa na cara do ouvinte para acordá-lo para o que vem adiante.

Com canções quase pops, como “A Good Idea At The Time”, o disco soa muito agradável desde a primeira execução. O peso está sempre presente, a não ser, é claro, nas baladas “Oh Lately It’s So Quiet”, “Let It Rain” e “Maybe, This Time”. As baladas, inclusive, sempre apresentam algum elemento mais original, que não é um clichê no estilo. O fato de o vocalista ter uma boa voz também é notável, mesmo que não seja um tom que se destaque, como o que acontece com Alex Kapranos do Franz Ferdinand, se encaixa com perfeição nas composições; palmas para o produtor – vou ficar devendo o nome. Os backing vocals também estão sempre lá para apoiar e cumprem muito bem seu trabalho.

Os destaques do disco em si são a energia tirada de tão pouca teoria musical, uma aula para bandas de virtuosi como o todo-poderoso Dream Theater – eu sei que são estilos muito diferentes, mas nem mesmo no metal é necessário ser tão metódico e robótico, tanto que eles são um “metal melódico/progressivo/power/épico/etc. Como já disse, a faixa número um é uma porrada e com certeza um destaque no disco por sua energia. “No Sign Of Life” é, na minha opinião a melhor faixa do disco, com uma guitarra simples, mas colante, assim como a sua curtíssima letra – duas estrofes, pré-refrao e refrão três vezes. O poder do riff de guitarra é tremendo, com suas notas agudas e insistentes; o solo é apenas uma extensão do riff, e só aparece para finalizar a excelente música . Outro destaque vai para os 2:25 minutos de “Crash The Party”, com sua letra que incentiva a simplicidade, renegando os cortejos e as ridículas conversas que precedem o romance ideal que no obrigamos a procurar. Tudo isso num clima de festa que melhora o humor de qualquer um, parece até um musical adolescente.

Apesar de ter citado apenas essas faixas, todo o disco é bom, não tem musicas médias ou ruins e tem outras mais roquenrol boas – “Television, Television” – e baladas também – “Oh Lately It’s So Quiet”. Não ando muito antenado, mas o Ok Go provavelmente é figurinha carimbada nas festas indies, mas fazem bem ao cardápio de qualquer um que goste de roquenrol puro, sincero, direto e empolgante; quase todo mundo. Não deixe também de assistir aos outros clipes insanos deles, “A Million Ways” e "Do What You Want".

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

06. Ben Harper - Diamonds On The Inside

Artista solo; tem tanta gente que toca com ele no disco que deu preguiça de colocar a banda aqui.








Lançamento: 11/03/2003

Playlist:
01. With My Own Two Hands
02. When It's Good
03. Diamonds On The Inside
04. Touch Form Your Lust
05. When She Believes
06. Brown Eyed Blues
07. Bring The Funk
08. Everything
09. Amen Omen
10. Temporary Remedy
11. So High So Low
12. Blessed To Be A Witness
13. Picture Of Jesus
14. She's Only Happy In The Sun

Muita gente conhece o Ben Harper atualmente. Ele fez a parceria com a Vanessa da Mata e a música deles toca o dia inteiro no rádio. Eu também acho aquela música legal, mas não tudo o que se diz por aí; as músicas solo de ambos são melhores. Por isso eu resolvi fazer uma análise desse disco de um dos músicos mais absurdamente completos que eu conheço. O cara toca tudo, muito bem e até faz umas músicas solo de vocais - capelas - muito boas.

Esse disco teve duas músicas que até fizeram um sucesso relativo, a primeira - "With My Own Two Hands" - e a faixa-título. Sozinhas elas mostram um pouco da variedade musical desse cara; a primeira é um reggae misturado com funk e a segunda uma baladinha com um ar surfista, de fato parecido com o Jack Johnson, mas bem mais rica, com uma progressão musical muito própria e um solo de guitarra, além de ter a voz bem mais agradável de Harper. O álbum passa por quase todos os gêneros da música negra, desde as suas raízes africanas, passando pelo blues, o soul, o reggae, o funk - estilo musical que surgiu na década de 1930, estourando entre os anos 1950 e 1970 e é uma espécie de "jazz das ruas", estilo de bandas como Jamiroquai e que o Red Hot Chili Peppers inclui na sua feijoada musical - e até mesmo o rock psicodélico, tudo tocado de forma apaixonada pelo artista.

Os solos desse álbum são um tópico à parte. Não por serem impressionantes, Ben Harper não é um virtuoso que fica querendo mostrar toda a sua destreza e velocidade, mas por serem tão carregados de emoção que se encaixam em músicas que normalmente não teriam um - "Diamonds On The Inside" é um exemplo disso, se fosse tocada pelo Jack Johnson ou seus afilhados não teria um solo. A intimidade de Harper com a guitarra é tamanha que suas músicas aceitam o instrumento por mais inesperado que seja a sua participação.

A quinta faixa, "When She Believes", é uma exceção dentro do disco. Com um clima vienense, ela tem quase uma orquestra de câmara tocando essa composição belíssima, que conta inclusive com um acordeon, que contribui para a dita atmosfera. A melodia da voz de Harper também é estupenda aqui, mas ainda não é seu grande momento. Em seqüência a polaridade é revertida, e da calma e quase melancólica faixa 5, entramos no funk "Brown Eyed Blues", apesar de o nome aparentemente negar - "blues" aqui vem no sentido do estado de espírito e não do estilo musical. A guitarra com a típica levadinha do estilo e a energia que o acompanha invariavelmente levantam o atral do disco. Um solo de baixo e guitarra são o grande destaque dessa música, assim como seu fechamento, com a importante participação da percurssão. "Bring The Funk" é o outro funk do disco, no sentido mais puro, pois a sua influência ocorre no disco todo. O baixo aqui vem com um riff sensacional, muito impositivo e, no geral, essa música supera a anterior, contando com teclado e uma parada sensacional, além de ter um ritmo melhor.

A atmosfera volta a esfriar com a faixa seguinte, mas continua mais animada, pois ela é mais pop, num estilo que contém soul, mas principalmente as ondas da Califórnia, onde Harper nasceu. "Everything" também tem uma boa letra, característica do artista, às vezes alegre, às vezes melancólico, como na faixa seguinte, "Amen Omen", que conta com uma excelente percurssão, além da tríplice de trunfos Harper: ótimas levadas no violão, letra bem escrita e voz excelente, tanto o timbre quanto a melodia; tudo isso misturado com muita emoção, pois, para quem quiser ver alguma apresentação ao vivo dele , suas músicas são parte de si. Atenção para o final dessa música e o sensacional conjunto de vozes, incluindo a de Harper.

Saímos do soul e sua melancolia para novamente tomar um choque com as faixas 10 e 11, com clara influência de Jimi Hendrix, mostrando todo o poder das guitarras do cara que antes parecia um bom-moço. Muita distorção e solos ensandecidos nas duas músicas de rock dos anos 1970 do disco. À propósito a década de 1970 é de grande influência para Harper, tanto pelo rock, quanto pelo funk, assim como os anos 1960 com o soul e o blues. "So High So Low" tem uma peculiaridade, começando com um dedilhado em violão e, de repente, surge o grito do meliante que, no primeiro verso, mata uma cobra com uma Bíblia e continua a música jogando sua mulher no chão e mais embaixo.

"Blessed To Be A Witness" e "Picture Of Jesus" vão de encontro com o profano roquenrol das faixas anteriores com letras gospel. Isso mesmo, ele canta sobre Jesus. Apesar do paradoxo, a ligação de "So High So Low" e "Blessed To Be A Witness" é tranqüila e acontece sem sustos. O clima agora é de "O Rei Leão", com uma percurssão muito competente e abusando das vozes, remontando ás origens do blues e ainda antes, em estilos de música típicos da África. É em "Picture Of Jesus" que Harper mais impressiona em seu 7º disco, 5º de estúdio. A faixa não tem instrumentos, é uma capela, com as vozes fazendo as vezes deles. É muito interessante ficar tentando prestar atenção a cada uma das vozes e suas funções na música. A última faixa termina o disco com um sentimento de que a gente vai querer escutar de novo amanha, não sei explicar muito bem o porquê, mas é o que acontece. Pra quem só ouviu "Boa Sorte", gosta de Jack Johnson ou simplesmente quer ouvir um músico completíssimo, que toca tudo que põe na mão e tem uma versatilidade enorme além de paixão por suas músicas essa é uma ótima pedida.