A banda:
Shannon Hoon - vocais
Christopher Thorn - guitarra
Rogers Stevens - guitarra
Brad Smith - baixo
Glen Grahan - bateria
Lançamento: 14/09/1992
Playlist:
01. Soak the Sin
02. Tones of Home
03. I Wonder
04. Paper Scratcher
05. Dear Ol' Dad
06. Change
07. No Rain
08. Deserted
09. Sleepyhouse
10. Holyman
11. Seed to a Tree
12. Drive
13. Time
Eventualmente publicarei aqui algum CD de uma banda brasileira – mais especificamente mineira de Ouro Branco – chamada Cartoon. O som deles é basicamente roquenrol, com influências de clássico dinossauros do roque, como Led Zeppelin ou até mesmo flertando com o pop, seguindo sua grande influência do Queen. Entretanto existe um toque especial no Cartoon que faz com que qualquer coisa que eles toquem fique – como os próprios dizem – “cartooniano”. Há algo de indiano, de clássico, de hippie, que caracteriza o som muitíssimo peculiar da banda. E por que raios eu estou falando dessa banda independente mineira numa análise de uma banda californiana? Pelo simples fato de serem bandas bastante parecidas. Chuto até que os hippies do Blind Melon tiveram grande influência na música dos hippies do Cartoon. O Blind Melon tem um som quase tão particular quanto o Cartoon – não conseguem ser tão estranhos porque os cartoonianos são todos, ou quase todos, maestros formados. As influências são parecidas, Lynryd Skynryd, o próprio Led Zeppelin, os hippies originais, e não os deslocados para o inicio da década de 1990 que compunham a banda. Eles eram uma banda muito fora do circuito mainstream da época, com o grande boom do grunge, um som muito mais sujo que o do Blind Melon – Nevermind, o grande álbum do Nirvana foi lançado no mesmo ano, bem como o Ten, debute do Pearl Jam.
A banda então, não era um bom representante do grunge, apesar de guardar algumas poucas semelhanças com o Pearl Jam, o que dificultava seu aparecimento para a mídia. Entretanto, eles fizeram muito sucesso. Muito mesmo. Duas coisas colaboraram para isso: 1) como conseqüência de um amigo-de-um-amigo-meu – no caso amiga – eles foram apresentado a um certo Axl Rose, que deu a eles oportunidade de abrir alguns shows de sua banda, o pouco conhecido Guns ‘n Roses. Ninguém que abre para uma banda desse calibre passa despercebido de alguma gravadora. E foi o que aconteceu, logo conseguiram um contrato para gravarem esse disco, que é o primeiro da banda. 2) se você ainda não sabe quem é essa abelhinha na capa do disco clique aqui e refresque sua memória ou conheça o som da banda. Sim, o clipe é fofo, lindo, a abelhinha é uma gracinha e tudo mais, já chega de hormônio feminino. Com esse clipe e essa música – talvez a melhor da banda – eles conseguiram uma repercussão enorme e venderam muito.
Cansei de contar historinhas. O que eu posso falar desse disco é que ele é surpreendente. Muito mais rico que simplesmente o grande hit “No Rain”, o disco é permeado por muitas guitarras e a grande voz de Shannon Hoon, que alem disso é um belo interprete das suas músicas, colocando muitas nuances no seu vocal. Todos os músicos são muitíssimo competentes, com certo destaque para o baixista, na minha opinião, que consegue fazer suas linhas em complemento com as também boas guitarras, mas sem ficar preso nelas, apenas imitando o riff.
Basicamente, o que se escuta é roque durante o disco inteiro, roque de muita qualidade. O toque hippie vem das viagens presentes em todas as faixas, com um momento bastante dissonante. A faixa 2, “Tones of Home” é um bom exemplo de tudo isso, seguindo um padrão típico, com seu riff, refrão e etc, mas toma um momento para fugir da fórmula em direção à psicodelia, com dissonâncias, solos picados, vocais “moles”, enquanto a cozinha – baixo e bateria – mantém a lógica e, depois de uma prova do poder da voz de Hoon e outro solo mais tradicional, voltam ao modelo básico da música. A faixa seguinte também tem algo disso na sua introdução, que parece ser uma música totalmente desvinculada do que é tocado nos quatro minutos seguintes; eles saem de uma roda de hippies com um violão para um hard rock meio estilizado.
De fato não é lá muito fácil gostar do estilo que a banda toca. Não é o que estamos acostumados a ouvir, nem o que esperamos depois de assistir ao clipe de “No Rain”. Apesar da sétima faixa do álbum ter uma sonoridade bem típica do Blind Melon, ela é menos roqueira que as demais e mais próxima do mainstream. E também é bem mais próxima das mentes que escutarão o disco e não são hippies. As letras do disco têm um pouco de psicodélico, de romântico, de psicótico – ex.: “Paper Scratcher” – e os vocais são agudos, arranhados e meio lunáticos, com um jeito bem próprio de encaixar os versos. As guitarras tanto de Thorn quanto Stevens são muito autônomas, com influências indianas e roqueiras, mas não costumam ser muito ininteligíveis. A cozinha faz seu trabalho muito bem, o baixo, como já disse é bastante criativo e um pouco independente das guitarras e a bateria está sempre mantendo a banda no lugar, mas sem ser repetitiva ou excessiva.
“Change” é uma faixa escolhida a dedo para preceder “No Rain”. Ela é mais calma, menos elétrica – na verdade nada elétrica – e usa instrumentos que quase não serão usados no resto do disco, o bandolim e a gaita. É bem “música para acampamento”, para tocar numa roda com os amigos, com um clima mais tranqüilo. É uma composição muito boa, que fez certo sucesso também, imagino que por sua semelhança com o hit que a segue. A faixa 7 tem base em violão, sem riff, ao contrário das bases do resto do álbum. O riff é tocado pela guitarra de solo, que faz qualquer um ter vontade de sair dançando como um hippie louco. É uma música muitíssimo agradável de se ouvir e a melhor letra do disco na minha opinião. Não é à toa que foi o grande hit da banda.
Depois de “No Rain” estamos de volta ao roquenrol da banda, com uma boa música, cheia de energia e com uma letra que eu gosto de chamar de psicótica. Leia e tire suas prórpias conclusões das imagens oníricas de “Deserted”. Outro destaque do disco é “Sleepyhouse”, faixa seguinte que começa na Índia e se desenvolve para uma quase balada. A voz aqui é menos arranhada, mais macia, e o andamento mais lento para chegar ao refrão, onde a música ganha um nível mais elevado de energia.
Uma temática comum do disco são as viagens não apenas causadas pela música, mas principalmente as psicotrópicas. É aqui que vem a parte mais triste da banda. Hoon era um hippie mais “hardcore” e era viciado em drogas. Em entrevistas ele afirmou não ter recordações de quando gravou nenhuma das músicas e foi internado algumas vezes em clínicas de reabilitação. Após as gravações do segundo disco da banda, durante a turnê ele tentou se manter longe das drogas, mas acabou morrendo de overdose em outubro de 1995, deixando o roque sem o seu grande talento, tanto como letrista quanto como vocalista. A banda tentou continuar com o baixista cumprindo também o papel de vocalista, mas logo declarou seu fim. Outras duas curiosidades para quebrar o clima. A abelhinha da capa do disco e estrela do clipe é irmã do baterista, Glen Grahan e nomeou um disco da banda lançado com os restos de gravação que Hoon deixou prontos. E o estranhíssimo nome da banda é como o pai de Brad Smith chamava um casal de hippies que eram seus vizinhos. Se você gosta de bandas como The Black Crowes ou mesmo dos dinossauros do roque, você provavelmente vai gostar de Blind Melon. Hippies também são bem vindos, bem como os que convivem com eles.
sábado, 31 de maio de 2008
sábado, 3 de maio de 2008
10. Bob Dylan – The Freewheelin’ Bob Dylan
A banda:
Bob Dylan – vocais/violões/gaitas
Lançamento: 27/05/1963
Playlist:
01. Blowin’ in the Wind
02. Girl from the North Country
03. Masters of War
04. Down the Highway
05. Bob Dylan’s Blues
06. A Hard Rain’s A-Gonna Fall
07. Don’t Think Twice, it’s All Right
08. Bob Dylan’s Dream
09. Oxford Town
10. Talking World War III Blues
11. Corrina, Corrina
12. Hony, just Allow Me One More Chance
13. I Shall Be Free
Bob Dylan é uma lenda viva. É com certeza o músico mais influente vivo – em se considerando que os Beatles foram uma banda, apesar de quê, eles foram influenciados por esse caipira. Escolhi fazer a análise desse disco porque ele vem me aliviando muita coisa. É um disco muitíssimo simples e considerado por muitos o melhor da longuíssima carreira do artista – seu primeiro álbum, homônimo e só de covers, é de 1962. Nesse segundo disco, Dylan toca sozinho – exceto em “Corrina, Corrina” – como se estivesse sentado em um bar com seu violão e sua gaita; esse é um dos fatos admiráveis quando se fala dele: com apenas 22 anos e um contrato prestes a ser perdido pelas terríveis vendas do seu primeiro disco, ele simplesmente grava sua obra-prima que, sem usar de quase nada se torna um dos discos obrigatórios aos ouvidos de qualquer pessoa sensata.
O folk, estilo que permeia o álbum e a carreira de Dylan era, na época, um estilo subversivo, adorado pelos universitários e boêmios dos EUA. Protestos eram sempre feitos através das canções folk, é só lembrarmos de Johnny Cash e mesmo prestar atenção a algumas das músicas desse disco, como “Masters of War” e “A Hard Rain’s A-Gonna Fall” para vermos a inspiração contestadora para a gravação. Uma das características que destacaram Dylan na época e destacam-no até hoje é sua facilidade de compor letras muito superiores à média. Sua outra inspiração para compor foi a sua namorada Suze Rotolo, que na época estava na Itália. Suze, à propósito é quem divide a linda capa do disco com Dylan.
A primeira música do álbum é uma masterpiece, como se diz no idioma de Shakespeare. É uma música que, apesar de ser muito simples, tem uma memorável letra de questionamentos, o que veio a ser uma das marcas do artista. “Blowin’ in the Wind” é a música desse álbum que todos nós já havíamos escutado antes mesmo de conhecer Dylan, tal a sua repercussão global. Em menos de três minutos as vendas do disco estavam garantidas e a carreira de Dylan salva com a boa escolha de se abrir o álbum com esse clássico.
Na minha opinião, porém, a música mais surpreendente é a seguinte: “Girl from the North Country”. Talvez por eu já conhecer a anterior, mas a sutileza da segunda faixa tanto em sua letra apaixonada como pela melodia do violão e vocal, como pela bela demonstração de como se tocar uma gaita e até a forma como Dylan consegue trabalhar sua voz rouca e pouco musical. Desde a primeira vez que ouvi o álbum essa era minha canção favorita. Além dela, “Down the Highway” também recebe um toque da melancolia do amor distante de Dylan e mostra, de quebra, sua grande habilidade com o violão. Essa habilidade é vista também em “Don’t Think Twice, it’s All Right”, porém nela não é o amor o tema, mas o fim dele.
A veia política também é ressaltada, como foi dito antes, em canções com o violão sempre bem repetitivo, não em um sentido negativo, mas com a intenção de manter a atenção na letra, eu imagino. Mesmo que a melodia do violão seja repetitiva como característica do folk, aqui ela se torna quase hipnótica, conseqüência da duração dessas canções, todas com mais de quatro minutos, contrastando por exemplo com o 1:50 de “Oxford Town”.
Algumas músicas são simplesmente uma diversão. Não têm preocupação com uma letra profunda, mas sim com o processo de composição por si só. “I Shall Be Free” e “Bob Dylan’s Blues” são exemplos claros disso; o cantor inclusive dá risadas no decorrer da última. São músicas mais orgânicas, que você pode escutar sem se preocupar com absolutamente nada. Outras duas faixas devem ser mencionadas também: “Corrina, Corrina” e “Honey, just Allow Me One More Chance”, ambas versões, a primeira uma músicas tradicional estadunidense e a segunda de , ambas excelentes.
Bob Dylan, como eu já disse, é uma lenda. Na música estadunidense ele está no mesmo patamar de artistas do calibre de Elvis Presley e Louis Armstrong, para citar seus “contemporâneos” – se considerarmos a que pé andava o cenário musical no início dos anos 1960. Dylan tinha um grande ídolo, Woody Guthrie, que foi quem o fez começar a compor e contestar a sociedade. Ele é um caso no qual o aluno superou o mestre. Não é preciso dizer que Dylan é obrigatório para qualquer um mas, se for preciso escolher apenas um álbum, eu não hesitaria em dizer The Freewheelin’ Bob Dylan.
Marcadores:
1960,
blues,
bob dylan,
folk,
freewheelin'
Assinar:
Postagens (Atom)