segunda-feira, 21 de julho de 2008

12. Pearl Jam - Vs.


A banda:

Eddie Vedder – vocais/guitarras
Stone Gossard – guitarras
Mike McCready – guitarras
Jeff Ament – baixo
Dave Abbruzzese – bateria





Data de Lançamento: 19/10/1993

Playlist:

01. Go
02. Animal
03. Daughter
04. Glorified G
05. Dissident
06. W.M.A.
07. Blood
08. Rearviewmirror
09. Rats
10. Eldery Woman Behind the Counter in a Small Town
11. Leash
12. Indifference

Antes de mais nada, me desculpem pela ausência, não vou ficar tentando explicar o por quê, vai tomar muito tempo e eu tenho preguiça. Mas cá estou de volta para reviver o blog, com uma das minhas bandas favoritas. (Re)comecemos então, uma pequena introdução histórica.

Os primeiros anos da década de 1990 fora muitíssimo prolíferos para o roquenrol. Vínhamos das ombreiras, dos óculos estranhos, das combinações bizarras, dos cabelos mais volumosos que tudo o que já havíamos visto. Deixando para trás os absurdos anos 1980, com todo o seu glamour e brilho, tivemos um choque contra isso surgindo das garagens estadunidenses. Mais precisamente numa cidade do estado de Washington, chamada Seattle. Cidade esta que abrigava muitos lenhadores nos anos 1980, já que o estado de Washington fica na fronteira noroeste dos EUA com o Canadá. Foi lá que, no finalzinho dos anos 1980, surgiu um movimento dentro do roque que causou uma reviravolta na cena musical da época. Todo o glamour e firulas do que conhecemos como “metal farofa” causou uma raiva tremenda nos roqueiros órfãos da fúria e simplicidade dos anos 1970, com banda como Ramones, Led Zeppelin, AC/DC, Black Sabbath etc. Das profundezas das garagens dos lenhadores saíram, então jovens vestindo camisas de flanela xadrezas, com as longas madeixas ensebadas até o limite do impossível, tocando acordes bravos em suas guitarras velhas com a distorção no talo e trouxeram a testosterona de volta para o mundo do roque.

Algumas das figuras que surgiram daí, todas meio diferentes, mas que acabaram no mesmo balaio de gato que resolveram chamar de “grunge”: Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden e, é claro o Pearl Jam. Para quem tiver preguiça de olhar num dicionário ou nunca teve curiosidade, “grunge” significa sujo, ensebado mesmo. É meio que o que existe em comum no som de todas essas bandas: é sujo, cheio de detritos sonoros, como microfonias e distorções, é pesado e direto, sem frescuras. E o Pearl Jam era um dos principais representantes desse estilo. E dos que eu enumerei o único sobrevivente à passagem dos Backstreet Boys, Britney Spears e cia pelos anos 1990. É bom deixar claro que não são os únicos que realizaram a proeza, mas são os que mais se expuseram à mídia.

Vs. é o segundo disco do Pearl Jam, com uma formação um pouco diferente do debute da banda, Ten, de 1991. O que não muda muito o som deles, que se manteve muito agressivo e barulhento; um bom adjetivo seria primitivo. Eddie Vedder é um vocalista de mão cheia, bem como todos os seus companheiros e todos melhoraram bastante ao longo do tempo. A primeira música já mostra o que eu disse sobre o primitivismo: a bateria bem marcada e o baixo muito mais alto que as guitarras, além dos gritos de Vedder. “Go” nos abre o apetite para o que virá, deixando claro o quanto a banda é explosiva. Temos uma bela tensão na maioria das faixas do disco e, como estamos falando de grunge, alguns dos solos às vezes passam despercebidos, pois não são os grandes astros das composições. O Pearl Jam é também excelente em passar sentimentos em suas músicas, mais do que fazer solos mirabolantes ou músicas dificílimas. Não sei se é o objetivo, mas é o que percebemos ao longo de sua discografia. E o sentimento mais expresso por eles é justamente a raiva primitiva, intrínseca em nós das primeiras faixas.

Entretanto nem tudo são espinhos em Vs. A terceira faixa, a mais conhecida do álbum já muda a raiva para algo mais macio, que não sei como consegue parecer paternal, inspirador, com o irônico título de “Daughter”. Os riffs das músicas desse disco são todos extremamente inspirados, como o de “Glorified G”, que mostra a veia um pouco mais política da banda, cantando contra as armas e, dependendo da sua viagem, chegando a compará-las com Deus. Outro grande riff é o da música seguinte, “Dissident”, que muda de repente seu estilo para o refrão, subindo muito a energia, tudo baseado no riff, muito simples, com poucas notas. Essas três faixas compõem o momento mais tranqüilo do disco, depois de toda a braveza das duas primeiras faixas. O trabalho da banda deve, é claro, ser elogiado em ambas as sintonias, raivosos ou não, a trupe de Vedder consegue fazer músicas de altíssima qualidade e que perduram até hoje. Em nenhum show a banda deixa de tocar músicas desse disco, por exemplo.

Nesse álbum inicia-se uma espécie de tradição no Pearl Jam: incluir músicas mais experimentais nos discos. W.M.A. é uma faixa completamente diferente do resto do disco, mais caótica, com uma letra estranha, cantada de forma bizarra e com a bateria de Abbruzzese tocada magistralmente nos colocando num transe, junto com o baixo de Ament – esse transe compõe a maior música do disco. Nessa faixa cantos primitivos que parecem rituais emergem e nos sentimos numa tribo pré-historica ou algo parecido. A grande importância dessa musica no disco é apontar um novo momento. Toda a raiva inicial volta, ainda maior em “Blood”, que tem uma batida de funk, no estilo de Red Hot Chili Peppers, com um riff pesado por cima e os gritos de Vedder completando a receita.

Começa então uma das melhores composições de toda a carreira do Pearl Jam. “Rearviewmirror” é uma bomba-relógio, que sobe, sobe e sobe de forma angustiante e chega num dos momentos mais barulhentos do disco, quase que um orgasmo. Não bastassem os dois grandes guitarristas da banda, Vedder chega a tocar uma terceira guitarra nessa faixa. Os backing vocals também são perfeitamente encaixados – também são três na faixa. No final todos os intrumentos vão à loucura, a bateria se torna uma locomotiva atropelando todos e finalmente acaba a melhor faixa do disco. O que não torna o que virá ruim. Muito pelo contrário, “Rats” com seu estilo mais parecido com Alice in Chains e “Eldery Woman Behind the Couter in a Small Town”, música para se tocar com os amigos, com uma belíssima letra, são excelentes. "Leash" se destaca dessas duas, sendo novamente raivosa e barulhenta, com a letra muito boa também e um riff mais uma vez louvável; é mais parecida com “Rearviewmirror”, mas não tão boa.

“Indifference” termina com chave de ouro o disco, apesar de ser muito diferente das outras. É a mais próxima do experimentalismo de W.M.A., muito calma, tem o tom melancólico de uma bela ressaca. É o que acontece depois de tantas explosões, é um encerramento conseqüente do que foi o resto do disco. Todos os instintos libertos, tudo acontecendo rápido demais, intensamente demais, termina com a reflexão que leva à melancolia dessa última faixa. É uma música que te convida a pensar e se perguntar, como Vedder canta: “how much difference does it make?” (“quanta diferença isso faz?”). O silêncio final é angustiante e pedimos desesperadamente pelo conforto da próxima faixa que não virá. Como eu disse, o Pearl Jam é excelente em criar sentimentos. Um dos “salvadores do roque” em um dos pontos altos de sua carreira. Obrigatório e ponto final.